domingo, 14 de junho de 2020

Ministro da Defesa deixa Forças Armadas indefesas



Em menos de 15 dias, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, participou de duas coreografias políticas que aborreceram profundamente parte da cúpula das Forças Armadas.

Num dos gestos incômodos, o general meteu-se num helicóptero ao lado de Jair Bolsonaro, em 31 de maio, um domingo. Juntos, sobrevoaram manifestação em que bolsonaristas pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal.

Noutro gesto fora da curva, Azevedo e Silva assinou na sexta-feira, junto com Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão, nota oficial na qual se lê: as Forças Armadas "não cumprem ordens absurdas" e "não aceitam tentativas de tomada de poder por outro Poder da República, ao arrepio das leis, ou por conta de julgamentos políticos."

Parte da oficialidade avalia que a movimentação do ministro da Defesa estimula a tese segundo a qual as Forças Armadas se envolveram na política, distanciando-se do seu papel de órgão de Estado. Algo que interessa a Bolsonaro, não ao Exército, Marinha e Aeronáutica.

Em conversa com a coluna, um almirante disse ter "inveja dos companheiros de farda do general Mark Milley." Trata-se da principal autoridade militar dos Estados Unidos, chefe do Estado Maior Conjunto. Ele pediu desculpas por ter participado de uma caminhada ao lado do presidente americano Donald Trump.

Avesso às manifestações antirracismo que eletrificam as ruas das cidades americanas, Trump caminhou ao lado de assessores até uma igreja próxima da Casa Branca que sofrera ataques de vândalos. Fez pose para a imprensa erguendo uma bíblia.

"Eu não deveria estar lá, disse Milley, o general que despertou a inveja do almirante brasileiro. "Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna. Como oficial da ativa, foi um erro com o qual aprendi, e espero sinceramente que todos nós aprendamos com ele."

Os críticos do general Fernando Azevedo e Silva avaliam que seus erros são equiparáveis ao de Mark Milley. A diferença é que o general americano reconheceu publicamente que errou. 

Nos próximos dias, Azevedo e Silva deve ser procurado por colegas que olham de esguelha para sua adesão à agenda política de Bolsonaro. Não imaginam que o general vá se desculpar. Mas esperam que o ministro da Defesa pare de errar. Do contrário, as Forças Armadas ficarão indefesas.

Por Josias de Souza

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