O presidente em exercício, general Hamilton Mourão, afirmou nesta terça-feira, 10, que as declarações do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), por meio de post no Twitter, de que regimes democráticos dificultam a implementação de mudanças, são “problema dele”. Em contraponto ao filho do presidente Jair Bolsonaro, ele defendeu que a democracia é “fundamental” e que é “lógico” que é possível fazer mudanças no país por meio do diálogo com o Congresso.
“Lógico, senão a gente não tinha sido eleito”, disse Mourão. “Temos que negociar com a rapaziada do outro lado da Praça (dos Três Poderes). É assim que funciona. Com clareza, determinação e muita paciência”, afirmou. Questionado diretamente sobre a fala do vereador, Mourão respondeu: “Carlos Bolsonaro, vocês perguntam para ele”. “Isso é problema dele, pergunte a ele”, reagiu.
Mourão foi questionado sobre o assunto na entrada do Palácio do Planalto, onde continua despachando do gabinete da vice-presidência na ausência de Bolsonaro. Ele deve permanecer interinamente no cargo até quinta-feira 12. “(A democracia é) Fundamental, são pilares da civilização ocidental. Vou repetir para você: pacto de gerações, democracia, capitalismo e sociedade civil forte. Sem isso, a civilização ocidental não existe”, declarou o vice.
Maia
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também criticou o post de Carlos Bolsonaro e disse que os agentes públicos precisam ter responsabilidade sobre o que falam. “É uma declaração que não cabe num país democrático. […] Frases como essa devem colaborar muito com a insegurança dos empresários brasileiros e estrangeiros de investir no Brasil. A conta das nossas frases quem paga é o povo mais pobre. Cada um de nós tem que refletir e tomar muito cuidado com o que diz”, disse.
O presidente da Câmara declarou ainda que o crescimento abaixo das expectativas é consequência também desse tipo de comportamento. “Tem alguma variável de sinalização que os agentes públicos estão dando, de todos os Poderes, que está gerando insegurança aos investidores. A gente tem que compreender os motivos de uma redução tão drástica da nossa expectativa de crescimento deste ano”, afirmou.
Maia julgou também que a situação da Venezuela, ao abrir mão de um sistema democrático, fez com que ninguém mais quisesse investir lá. “Democracia é o sistema que dá estabilidade aos países, confiança, tranquilidade para investimentos a longo prazo, que é o que precisamos para gerar empregos”, concluiu.
Alcolumbre
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que a democracia está fortalecida no Brasil e manifestou “desprezo” por comentários no sentido contrário ao ser questionado sobre o post de Carlos Bolsonaro. “No Senado, o Parlamento brasileiro, a democracia está fortalecida, as instituições estão todas pujantes, trabalhando a favor do Brasil. Então, uma manifestação ou outra em relação a esse enfraquecimento tem da minha parte o meu desprezo”, disse.
Ciro Gomes
O ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), que foi candidato à Presidência da República no pleito de 2018, também reagiu duramente ao post. “Veja, esse rapaz é um percevejo desses que infestam a vida brasileira e, portanto, ele não merecia qualquer tipo de reflexão. O problema é que ele é um filhote do Bolsonaro e ele só pode merecer uma reflexão na proporção que isso representar um pensar do Bolsonaro”, disse Ciro, que participou como espectador dos debates travados nesta terça-feira, 10, do 16º Fórum de Economia que a Fundação Getulio Vargas (FGV) realiza desde segunda 9 na capital paulista.
De acordo com Ciro, “é preciso que todo mundo, todos nós, cobremos do Bolsonaro uma declaração explícita, clara, se esse menino está falando mais uma bobagem, de mal-amado que é, percevejo da vida brasileira, e neste caso nós vamos refletir para dizer ao Bolsonaro que ele tente”, disse o ex-ministro. Para o pedetista, se o presidente confunde a população brasileira em matéria de costumes, “se ele explora o colapso moral que o PT produziu no País, se ele explora o desastre socioeconômico que o PT produziu, ele nos divide”. “Mas se ele imagina que vai transgredir o ditado do direito democrático, ele que tente para ver quantos brasileiros vamos encará-lo na linguagem que ele preferir”, disse.
Doria
O governador de São Paulo, João Doria, também criticou o tuíte de Carlos Bolsonaro. “Sem entrar na polêmica, eu penso o oposto. Só com a democracia é que nós podemos ter um país soberano, livre e capaz de produzir políticas sociais e políticas econômicas. É só com a democracia, não há nenhum outro caminho possível para o país. E eu estarei ao lado dos democratas”, afirmou o tucano ao jornal Folha de S. Paulo.
Bolsonaro
Já o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse que “o que é tuitado nas redes sociais pessoais é de responsabilidade de quem o fez”. “Nosso foco é a recuperação do presidente”, acrescentou, durante coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira, 10. Barros afirmou não saber se o presidente Bolsonaro tomou conhecimento do tuíte ou se comentou sobre o assunto. “Acredito que o vereador tenha conversado sim com o presidente da República”, disse.
Ainda segundo o porta-voz, Carlos Bolsonaro, assim como a primeira-dama Michelle Bolsonaro, estão como acompanhantes do presidente no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde Bolsonaro se recupera de uma cirurgia realizada no domingo para correção de uma hérnia incisional.
Na Veja (Com Estadão Conteúdo)
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