Vamos colocar a discussão em nível de 5ª série para que todos a compreendam. Sim, o Brasil tem soberania sobre a Amazônia. Se quiser derrubar toda a floresta e pavimentar a área, transformando-a num gigantesco estacionamento, pode perfeitamente fazê-lo. Só que o mundo também tem suas soberanias.
Se consumidores ou governos estrangeiros decidirem que vão deixar de comprar produtos brasileiros ou impor sanções ao país, podem perfeitamente fazê-lo.
Nesse cenário, o Brasil amargaria duplo prejuízo: perderia a floresta e se veria transformado em pária internacional. É um tiro no pé, portanto, a atitude do governo Bolsonaro de bater boca com líderes de nações que nos cobram os compromissos de preservação ambiental firmados pelo Estado brasileiro.
Jair Bolsonaro e seus seguidores não só não veem o óbvio como, de forma preocupantemente infantil, se põem a insultar o presidente francês Emmanuel Macron, fazer referências à aparência de sua mulher e a exigir que ele "retire o que disse". Só ficou faltando o "te pego na saída".
Bolsonaro já deu todos os sinais de que não deixará de ser Bolsonaro. Ele seguirá com sua agenda ideológica e péssimos modos até o fim. Pode recuar diante de um obstáculo que julgue difícil transpor num dado instante, mas apenas para tentar de novo mais adiante. Ele deve até achar que ganhou o embate contra a França, já que chamou a mulher de Macron de velha e feia sem usar essas palavras.
Em medidas um pouco mais objetivas, porém, a popularidade do presidente está caindo rapidamente, anos e anos de trabalho de diplomacia ambiental brasileira foram jogados no lixo, alguns produtores brasileiros, como os do setor de couros, já enfrentam boicote lá fora e o país está perdendo áreas de floresta sem ganhar nada com isso. Bolsonaro só somou pontos com o público que já era seu. Se isso é uma vitória, precisamos redefinir o significado de derrota.
Por Hélio Schwartsman
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