segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Mendes: se no Executivo, membros da Lava Jato fechariam o Congresso e o STF



Gilmar Mendes, ministro do STF, abriu o programa de entrevistas da Folha e do UOL, que estreou neste domingo. As duas redações compartilham um estúdio inaugurado em Brasília. Falou, o que não é surpreendente, o que tinha de ser falado em defesa do estado democrático e de direito e do devido processo legal. E reiterou críticas aos desmandos da Lava Jato, o que ele já fazia antes das revelações trazidas a público pelo site The Intercept Brasil. 

Acima, há o vídeo com a íntegra da entrevista concedida a Thais Arbex, da Folha, e Tales Faria, do UOL.

Segundo o ministro, se membros da Lava Jato que desrespeitam flagrantemente a lei estivessem no Executivo, fechariam o Congresso e o Supremo: "Aprendemos, vendo esse submundo, o que eles faziam: delações submetidas a contingência, ironizavam as pessoas, perseguiram os familiares para obter o resultado em relação ao investigado. Tudo isso que nada tem a ver com o Estado de Direito". 

Quatro trechos, transcritos pela Folha:

POPULARIDADE DE MORO: 
Se um tribunal passar a considerar esse fator, ele que tem que fechar, porque ele perde o seu grau de legitimidade. A população aplaude linchamento. E a nossa missão, qual é? É dizer que o linchamento é legal porque a população aplaude? A volúpia, a irracionalidade leva a desastres. 

No caso do juiz, isso é mais grave porque ele tem que aplicar a lei. Do contrário, a nossa missão falece. Se é para sermos assim legitimados, entregamos, na verdade, a função ao Ibope.

O processo penal, em geral, não envolve Madre Teresa de Calcutá. Envolve pessoas que podem ter cometido crimes. Ainda assim, elas têm direitos e esses direitos precisam ser respeitados. 

AMEAÇAS À DEMOCRACIA 
Considerando os nossos antecedentes históricos, devemos sempre ter cuidado. Comemoramos no ano passado 30 anos de normalidade institucional, 30 anos de democracia sob a Constituição de 1988, e acho que devemos prosseguir nesse trabalho de construção e reconstrução institucional.

Temos que fortalecer a democracia. E devemos, de fato, criticar fortemente aqueles que, de alguma forma, por discurso, por prática, a ameaçam. Devemos estar atentos e, a cada sinal, especialmente partindo de pessoas com responsabilidade institucional, devemos criticar ou mesmo reprimir. Clamar pela restauração do regime militar é um crime contra a democracia, contra a segurança nacional.

LAVA JATO X DEMOCRACIA 
Quando alguma autoridade se investe de um poder incontrastável ou soberano, ela de fato ameaça a democracia. Quando se diz que não se pode contrariar a Lava Jato, que não se pode contrariar o espírito da Lava Jato —e muitos de vocês na mídia dão um eco a isso—, nós estamos dizendo que há um poder soberano. Onde? Em Curitiba. 

Que poder incontrastável é esse? Aprendemos, vendo esse submundo, o que eles faziam: delações submetidas a contingência, ironizavam as pessoas, perseguiram os familiares para obter o resultado em relação ao investigado. Tudo isso que nada tem a ver com o Estado de Direito.

Vamos imaginar que essa gente estivesse no Executivo. O que eles fariam? Certamente fechariam o Congresso, fechariam o Supremo. Esse fenômeno de violação institucional não teria ocorrido de forma sistêmica não fosse o apoio da mídia. Portanto, são coautores dos malfeitos. 

CPI DA LAVA TOGA 
É notório que uma CPI para investigar o Supremo ou um dado ministro, pela própria jurisprudência da Casa, é flagrantemente inconstitucional. Acho que os próprios signatários, os principais líderes, sabem disso.

Se essa CPI fosse instalada, produziria nenhum resultado. Certamente, o próprio Supremo mandaria trancá-la. A independência dos Poderes não permite esse tipo de investigação, está dentro das cláusulas pétreas. 

Mas, se ela não fosse trancada, também não produziria resultado. É mais uma mensagem desse populismo aí.

Por Reinaldo Azevedo

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