O discurso de Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas não será sua estreia num palco internacional relevante. O presidente estreou em 22 de janeiro, quando discursou na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Nesse dia, Bolsonaro dedicou meia dúzia de palavras ao meio ambiente. Foi generoso com os antecessores.
Sem citar nomes, Bolsonaro disse que "somos o país que mais preserva o meio ambiente". Reconheceu, portanto, o trabalho feito antes da sua chegada. Explicou que o agronegócio brasileiro "cresce graças à sua tecnologia e à competência do produtor rural". Por isso, "menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária", realçou Bolsonaro. Ele ainda afirmou que "os setores que nos criticam têm, na verdade, muito o que aprender" com o Brasil.
O Bolsonaro que discursará na ONU nesta terça-feira já dispõe de oito meses de serviços próprios a exibir na área ambiental. O problema é que nesse intervalo, o capitão fez uma opção preferencial pela falta de nexo. Desmontou o aparato fiscalizatório do Ibama, desmoralizou dados científicos do Inpe, refugou verbas doadas por Noruega e Alemanha. Foi como se desejasse instituir uma espécie de liberou geral para desmatadores, garimpeiros e grileiros.
Bolsonaro tem plena consciência dos efeitos da sua política anti-ambiental. O Brasil está pendurado de ponta-cabeça nas manchetes internacionais, sem dinheiro para preservar a floresta e sob ameaça de sofrer retaliações comerciais. Portanto, o presidente sabe o que precisa fazer. Para que seu discurso seja proveitoso para os interesses nacionais, Bolsonaro terá de soar na ONU como um anti-Bolsonaro, eis o que precisa fazer.
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