O PSL não se articulou para conseguir um aliado na presidência nem na relatoria da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre Fake News, e o governo já está pagando o preço, a julgar pelos rumos que está tomando a CPMI. O presidente, Angelo Coronel (PSD-BA), garantiu que Carlos Bolsonaro será convocado para depor e, se mentir sobre notícias falsas, será alvo de voz de prisão do senador.
“É uma pergunta muito simples. Você usou fake news para depreciar adversários? Você vai jurar que está falando a verdade? Eu vou lhe dizer: se você mentir, eu posso lhe dar voz de prisão”, disse Angelo Coronel à TV Câmara de Salvador.
Ainda não há um requerimento formal para convocar Carlos, mas a relatora da CPMI, Lídice da Mata (PSB-BA), também já deu declarações a favor de o vereador licenciado ser chamado para depor.
Na comissão há requerimentos para convocar a ministra Rosa Weber, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a ex-deputada e candidata a vice de Fernando Haddad, Manuela D'Ávila, e representantes das principais empresas de telecomunicações que atuam no Brasil, Oi, Tim, Claro, Vivo e Nextel.
Até o youtuber Felipe Neto, que se posiciona frequentemente contra o governo nas redes sociais, está na lista de possíveis convocados. Os pedidos devem ser votados nas próximas semanas, dando início a audiências públicas na comissão.
Uma das missões do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) como emissário de seu pai no Congresso, Jair Bolsonaro, é monitorar a CPMI. Apesar de deputados do PSL terem endossado sua criação, a comissão parlamentar de inquérito deve avançar na investigação do uso de notícias falsas para eleger Jair Bolsonaro em 2018, o que interessa ao centrão e à oposição.
Líderes do centrão que articularam para que a CPMI fosse criada veem a comissão como uma carta na manga contra o governo em momentos de necessidade.
Querem aumentar a temperatura dos debates por lá quando for conveniente pressionar o governo. A situação é preocupante para o Palácio do Planalto.
DEBATE PODE SER DIRECIONADO A ACUSAÇÕES CONTRA BOLSONARO
A oposição também encara a comissão como um flanco aberto contra o governo. Mesmo após a campanha de Fernando Haddad ter sido multada por impulsionar notícias falsas, o PT apoiou a decisão do Congresso de impor uma pena de prisão a quem distribuir "fake news" no fim do mês passado, mostrando que quer direcionar esse debate para as acusações contra Jair Bolsonaro.
A titular na comissão entre os senadores do PSL é Selma Arruda (MT), que ameaçou recentemente deixar o partido. Demonstrando que a CPMI já acionou uma luz vermelha no Planalto, Flávio Bolsonaro, suplente de Selma, prometeu bater ponto por lá em todas as sessões. Na última, nesta terça-feira, foi derrotado ao tentar barrar requerimentos para convocar representantes das redes sociais para falar na CPMI.
Flávio e três deputados do PSL — Carla Zambelli (SP), Filipe Barros (PR) e Caroline de Toni (SC) — passaram duas horas tentando evitar a votação dos requerimentos da deputada Luizianne Lins (PT-CE). Tentaram usar artigos dos regimentos internos da Câmara e do Senado e chegaram a alegar que a CPMI é um "tribunal de exceção" contra Bolsonaro.
Bolsonaro é investigado no TSE por uma ação que apura suposto impulsionamento de mensagens falsas nas eleições. Para parlamentares de oposição, o andamento da ação é positivo porque a punição seria uma cassação da chapa, implicando também o vice-presidente Hamilton Mourão. Para o centrão (grupo composto por DEM, PP, PL, SD, PRB), é algo a se guardar na gaveta.
Por Época
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