sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Agora é Paulo Guedes quem ofende Brigtte Macron


Resultado de imagem para Guedes demora a converter gogó em resultados

Agora é Paulo Guedes quem ofende Brigtte Macron. Mimetizando o comportamento de Jair Bolsonaro, Guedes disse que "é feia mesmo" a mulher do presidente da França, Emmanoel Macron. Numa palestra para empresários, no Ceará, ele esticou o deboche: "Não existe mulher feia. O que existe é mulher vista pelo ângulo ruim." Pobres mães e pais. Há cada vez menos exemplos para dar aos filhos —"Não minta, meu filho. Ou você acaba virando ministro da Economia. Ou morando no Palácio da Alvorada."

Quando Bolsonaro declarou que havia encontrado um Posto Ipiranga para abastecer sua ignorância econômica, faziam-se apostas sobre qual das diatribes do capitão produziria a crise que faria o ministro jogar tudo para o alto e cumprir a ameaça que repetiu há três meses: "Pego um avião e vou morar lá fora". Sabia-se que Guedes não consertaria Bolsonaro. O que ninguém imaginava é que Bolsonaro pudesse estragar em tão pouco tempo um economista egresso da escola de Chicago.

Guedes encaixou Brigitte em sua prosa a pretexto de criticar a imprensa. Empilhou iniciativas adotadas pela equipe econômica. E lamentou que, a despeito de enxergar "progressos em várias frentes", os meios de comunicação preferem pendurar nas manchetes as polêmicas que brotam dos lábios de Bolsonaro: os ataques à ex-presidente chilena Michelle Bachellet, as referências à idade e feiúra da mulher do Macron… Questionado pelos repórteres, classificou sua própria descortesia de brincadeira.

Horas depois, Guedes mandou sua assessoria soltar uma nota oficial. Nela, está escrito que "a intenção foi ilustrar que questões relevantes e urgentes para o país não têm o espaço que deveriam. Não houve qualquer intenção de proferir ofensas pessoais." A emenda conseguiu piorar o soneto. 

Supunha-se que o ministro já tivesse notado que a crise está na ponta da língua de Bolsonaro, não no noticiário que reproduz suas barbaridades. Se o presidente trouxesse suas palavras na coleira e o ministro convertesse gogó em resultados, a imprensa mudaria de assunto instantaneamente.

O problema é que Bolsonaro não para de produzir insensatez. A penúltima foi o vaivém sobre o teto dos gastos. Num dia, a revisão do teto é um imperativo matemático. O porta-voz do Planalto ecoou o chefe, endossando-o. Na manhã seguinte, o recuo nas redes sociais. E o país fica autorizado a suspeitar que Bolsonaro está mais preocupado com as urnas de 2022 do que com os cofres de 2019. Cofres que Guedes prometera sanear no primeiro ano de governo.

O governo entrou no nono mês. E o ministro da Economia ainda não levou ao Congresso uma proposta lapidada de reforma tributária. O fim dos subsídios? Nada. A facada na mamata do Sistema S? Nem sinal. A coleta de R$ 1 trilhão com a venda de estatais e imóveis públicos? Necas. A desvinculação de gastos obrigatórios do orçamento? Lhufas. Por enquanto, há uma reforma previdenciária saindo do forno, um presidente que produz crises diárias na saída do Alvorada e um ministro da Economia com uma garganta enorme.

Os governos do Brasil tem cinvivido com ministros econômicos que se consideram extraordinários. Alguns têm o prestígio de super-ministros. No final das contas, vários apresentam um defeito comum. Costumam encontrar as verdadeias soluções para os problemas econômicos do país quando se transferem do palco para a crítica. Para evitar a sina dos ex-ministros geniais, Paulo Guedes deveria adotar como prioridade serenar a retórica do presidente, não aderir à mesma incivilidade.

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