quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Há, de fato, um Churchill na cabeça de Carlos da Lua. Só que às avessas


O Churchill deles e o nosso: a diferença entre a defesa
da democracia e a defesa da ditadura.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP resolveu sair em socorro de Carlos, o irmão que andou cantando as glórias do golpismo. Ao fazê-lo, mostrou que seu melhor argumento continua a ser a pistola na cintura. Imagino toda essa habilidade a serviço do Brasil na embaixada de Washington… Dudu comparou o irmão a Churchill! 

O Zero Dois, como se sabe, dado o destrambelhamento habitual, resolveu flertar com a ditadura. Escreveu a seguinte maravilha: 
"Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!"

O nosso diplomata aprendiz, o pensador da família, não viu nada de mais na fala do irmão. E mandou bala: 
"A democracia é a pior forma de governo'. Sabe quem falou essa frase? Winston Churchill. Se ele fosse deputado, filho do presidente, os opositores parariam por aí e não seguiriam até o fim da mensagem, que termina 'com exceção de todas as demais"' 

Vamos ver.

Se a frase de Churchill fosse lida pela metade, estar-se-ia, de fato, diante de uma distorção miserável. Ele faz, como resta claro, o elogio da democracia. 

Já a danação de Carlos está justamente em se ler a frase inteira. Tivesse ele parado na primeira parte, ainda se poderia, com alguma boa-vontade, especular que estivesse apenas se referindo às dificuldades inerentes à democracia. Mas quê… 

Ele pôs em dúvida a efetividade do regime para transformar o país — "se isso acontecer" — e depois asseverou a sua ineficácia: "roda girando em torno do próprio eixo", sob o comando dos "que sempre nos dominaram".

Entenderam? 

Churchill disse que a democracia era o único regime aceitável. 

Carlos, o Churchill do clã Bolsonaro, diz rigorosamente o contrário: a democracia impede a "transformação". 

Dito de outro modo: se lido pela metade, Churchill seria tomado por um defensor da ditadura, embora fosse um democrata. Se lido pela metade, Carlos até poderia ser tomado por um democrata, embora seja mesmo um defensor da ditadura. 

Entendeu a diferença, embaixador? 

Ah, sim: Eduardo aproveitou para acusar os críticos do irmão de defensores do ditador Nicolás Maduro. 

É mesmo?

Entram na categoria, deixem-me ver, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia; o do senado, Davi Alcoumbre, e o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República e presidente em exercício. 

Não vejo a hora de assistir à sabatina de Eduardo no Senado. 

Ele tem muito a nos ensinar sobre interpretação de texto, lógica, diplomacia e Churchill.

Por Reinaldo Azevedo

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