sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Ninguém usou filha de Janot para atacá-lo; isso é prática corrente da LJ


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Rodrigo Janot assume o papel de pai extremoso ao explicar por que tomou a decisão de cometer um crime, entrando armado no Supremo, para cometer um outro, muito maior: matar um dos ministros. Ao Estadão, ele afirma: "Eu sou um sujeito que não se incomoda de apanhar. Pode me bater à vontade… Eu tenho uma filha, se você for pai…"

Não concluiu a frase, mas deu para entender. Se você for pai, vira um homicida. Ainda que a informação que o levou a cometer um dos crimes — entrar armado no Supremo — trouxesse dados objetivos sobre uma advogada adulta. Ele não entendeu: como advogada da OAS e da Odebrecht, Letícia não cometia irregularidade nenhuma. Ele, Janot, é que não poderia ter atuado nos casos que diziam respeito às empreiteiras. Os fatos eram desairosos para ele, não para ela. 

O então procurador-geral reagiu, no entanto, como se eu estivesse — atribuindo, na verdade, o feito a Gilmar Mendes — atacando a filha para atingir o pai. E, na entrevista ao Estadão, dá a entender ser isso inaceitável. E é mesmo!

Venham cá: quantas vezes a Lava Jato, uma criação sua, recorreu de modo escancarado a esse expediente? Ou não foi o próprio Janot a avançar sobre uma das filhas do então presidente Michel Temer para tentar depor o pai? Quando não conseguiu apresentar uma prova que o ligasse a uma suposta irregularidade nos portos, a questão se concentrou na reforma da casa da filha.

Um dos braços da Lava Jato não avançou, por exemplo, sobre Luiz Claúdio, um dos filhos de Lula, envolvendo-o num suposto tráfico de influências que teria feito pelo já então ex-presidente no caso da compra dos caças Gripen? Aliás, de todas as ações penais contra o petista, essa é a mais escancaradamente alucinada. Quem escolheu os caças suecos foi a Aeronáutica. A interferência de Lula teria se dado porque recebeu uma carta de um sindicalista sueco defendendo os aviões do seu país. A propósito: trata-se de Stefan Löfven, que hoje é primeiro-ministro.

Imaginem vocês! Donald Trump colocou como condição para a aproximação entre os EUA e o Brasil que se mude a nossa legislação para permitir que a AT&T compre as operações da Warner no Brasil. E Bolsonaro propôs a mudança. Eduardo, o filho que é candidato a embaixador, já gravou um vídeo defendendo o negócio. Tem cara de lobby. Até agora, o Ministério Público não se interessou pelo assunto.

Lava Jato e filhos? Eis um assunto de que essa gente entende. Reportagem do The Intercept Brasil evidenciou como a força-tarefa resolveu pressionar a filha do investigado Raul Schimidt, que morava em Portugal, para forçá-lo a se entregar. Até Sergio Moro achou um exagero. Mas, claro, acabou concordando. Nathalie Angerami Priante Schmidt Felippe foi alvo de absurda intimidação no Brasil.

Os filhos dos outros são os filhos dos outros. 

Mas bastam duas postagens num blog com informações públicas sobre a vida profissional da filha de Rodrigo Janot para que ele logo planeje um homicídio. 

E ainda se considera com razão e faz cara de mau.

Por Reinaldo Azevedo

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