segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Ambiguidade torna-se principal marca da administração Bolsonaro aos 9 meses



A Presidência de Jair Bolsonaro faz aniversário de nove meses nesta terça-feira. Nesse curto período, o retrato que o capitão pintava de si mesmo mudou. Tomando-se como parâmetro sua autoimagem, o Bolsonaro que está no Planalto é indigno de Bolsonaro. Trata-se de um Bolsonaro que se debate no pântano das ambiguidades, perdendo-se na manobra de ser e não ser ao mesmo tempo. Onde está o Bolsonaro de 2018 que não socorre este outro?, eis a pergunta que até os bolsonaristas começam a se fazer.

Em política, o "novo" às vezes é algo muito antigo. Tome-se o exemplo do relacionamento do capitão Bolsonaro com o coronel da política pernambucana Fernando Bezerra. Um, após permanecer na Câmara como um obscuro deputado por 28 anos, chegou ao Planalto cavalgando a fome de limpeza da sociedade. Outro, depois de apoiar Lula, ser ministro de Dilma e virar freguês da Lava Jato, era parte do entulho. Súbito, o detergente transforma a sujeira em representante do governo no Senado.

Havia na Esplanada dois ministros portadores de cartas brancas: Sergio Moro e Paulo Guedes. O ex-juiz da Lava Jato descobre da pior maneira que pedestal não tem elevador. Convive com a suspeição ao redor (do Zero Um aos ministros investigados, denunciados e condenados). Assiste à inércia do capitão diante do naufrágio do pacote anticrime, que sonhava aprovar no Congresso em seis meses. Começa a ver pus no fim do túnel.

O Posto Ipiranga, neófito em serviço público, constata que o inferno existe, mas não funciona. Nele, o lero-lero é o caminho mais longo entre um projeto econômico e sua realização. Uma previsão de crescimento anual de 2,5% pode virar uma decepção de 0,8%. Antes de ser silenciado, o tambor da CPMF mostrou que o governo tem poucas ideias. Algumas são ruins. E, aliás, nem são dele. E o diabo, já meio impaciente, começa a questionar o teto orçamentário, imaginando que todos os gastos são pardos.

A conjuntura parece conspirar contra o otimismo. Na política, o governo Bolsonaro começa a ficar parecido com o cadáver dos anteriores. Vê-se pelos microorganismos. Na economia, muitos brasileiros, depois de ouvir os discursos do presidente sobre os novos tempos, podem pedir para ir viver no país que ele descreve, seja ele onde for. 

A coisa talvez fosse mais simples para os bolsonaristas se os nove meses de Presidência tivessem transformado Bolsonaro num político igual a todos os outros. Mas foi pior do que isso. A movimentação errática faz de Bolsonaro um personagem muito diferente de si mesmo —ou da grande novidade que ele dizia ser.

Por Josias de Souza

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