"Vivemos o enfrentamento de uma pandemia que exige a união de todos nós brasileiros. O momento é de cuidado e de prevenção, mas também de muita ação por parte do Exército brasileiro (...)."
"(...) Após rápido e minucioso exame da situação, que se mostra extremamente dinâmica, diretrizes foram expedidas pelo Comando do Exército e, em nível setorial, pelo Comando de Operações Terrestres, pelo Departamento de Pessoal e pelo Departamento de Educação e Cultura (...)".
"(...) Uma de nossas responsabilidades com a Nação nesse momento de crise é que nossa tropa deve manter a capacidade operacional para enfrentar o desafio e fazer a diferença. Talvez seja a missão mais importante de nossa geração (...)"
São palavras de Edson Leal Pujol, comandante do Exército, em vídeo distribuído à tropa. Atenção! A força, felizmente, está fazendo justamente o que o presidente Jair Bolsonaro condena.
Todas as escolas militares, exceção feita às que funcionam em regime de internato, suspenderam as aulas presenciais. Estão sendo ministradas a distância.
Não só. Como informa o Estadão, tropas do Exército saíram às ruas de Vitória nesta terça, no dia em que Bolsonaro fez seu pronunciamento irresponsável, para ajudar as autoridades a convencer as pessoas a ficar em casa.
As Forças Armadas, por óbvio, desenvolveram planos de contingência caso, nos estritos limites do Artigo 142 da Constituição, sejam chamadas a auxiliar na manutenção da lei e da ordem — na hipótese de o coronavírus levar ao caos social, o que não está no horizonte por ora.
É bom notar: a cúpula militar está alarmada com o comportamento de Bolsonaro e afinada com as medidas de restrição à circulação de pessoas para tentar achatar a curva de contaminação.
Bolsonaro lotou o Palácio do Planalto de militares e distribuiu muitas centenas deles na administração. Tem a admiração dos soldados e dos oficiais de baixa patente. Ou tinha. Afinal, eles são filhos, pais, maridos, irmãos... Também as tropas não são imunes ao coronavírus — e, pois, ao discurso irresponsável do presidente.
Nas entrelinhas, não é segredo para ninguém, Bolsonaro gosta de alimentar a fantasia de que ninguém ameaçaria depô-lo por um processo de impeachment porque, afinal, teria com ele o Partido Verde Oliva.
Não tem! Não para promover a desordem ou o golpe.
Os miliares veem agora a besteira que fizeram em se engajar na sua candidatura — e engajamento houve. Nem preciso lembrar agora os fatos.
Pois o Bolsonaro que está na Presidência é aquele mesmo que, quando na ativa, cogitou explodir bombas em quarteis e mandar para os ares a adutora de Guandu, que abastece de água o Rio. Queria evidenciar o descontentamento com o soldo. Foi chutado do Exército, mas não recebeu a punição que merecia. Virou político. Deu no que deu.
Agora, na contramão do que faz o mundo inteiro — e as próprias Forças Armadas no Brasil —, incita a população a se abraçar ao coronavírus na suposição de que isso é só uma doença de velho.
Como lógica, coerência e bom senso não são suas características mais salientes, afirmou em seu pronunciamento:
"Devemos, sim, é ter extrema preocupação em não transmitir o vírus para os outros, em especial aos nossos queridos pais e avós. Respeitando as orientações do Ministério da Saúde."
Ora, não transmitir o vírus para os outros — ou não recebê-lo dos outros — supõe ficar em quarentena. Seguir as orientações do Ministério da Saúde também.
Mas ele decidiu pregar o contrário, fiel à sua biografia de arruaceiro.
Por Reinaldo Azevedo
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