segunda-feira, 23 de março de 2020

Crise do vírus: aprovação de governadores e Mandetta supera a de Bolsonaro


Datafolha/Folha

Para os brasileiros, o desempenho de Jair Bolsonaro na condução da crise do coronavírus está bem abaixo da performance dos governadores ou do ministro da Saúde, Luiz Mandetta. É o que aponta pesquisa Datafolha realizada por telefone entre os dias 18 e 20 de março, ouvindo 1.558 pessoas. A margem de erro é de três pontos para mais ou para menos. Sim, o presidente perde feio, mas, se querem saber, até que obtém uma aprovação razoável, dada a impressionante sequência de barbaridades que tem feito e dito.

Para 35%, seu desempenho é "ótimo ou bom", contra 33% que o consideram "ruim ou péssimo". É regular para 26%. Dizem não saber 5%. Notem que a coisa se situa em torno daquele terço, pouco mais, pouco menos, que considera a sua gestão ótima ou boa, segundo várias pesquisas. Ou por outra: há aí o eleitorado fiel, que não deserta de jeito nenhum. Vamos ver. A crise está só no começo. 

Bolsonaro tem se lançado de peito aberto contra as medidas de isolamento social implementadas pelos governadores e recomendadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde.

Aprovam o desempenho do Ministério 55% dos ouvidos. Ele é ruim ou péssimo apenas para 12%. Veem-no como regular 31%.

A avaliação dos entrevistados sobre os governadores, que têm emprestado a face às medidas que restringem a circulação e a concentração de pessoas, também é boa: sua atuação é aprovada por 54% na média: 51% no Nordeste; 52% no Sudeste; 56% no Centro-Oeste/Norte e 61% no Sul.

Entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, a reprovação à condução de Bolsonaro chega a 51%; entre os com ensino superior, 46%. O Nordeste é a região mais severa com o presidente: 41% de ruim/péssimo. Pensam o mesmo 34% dos ouvidos do Sudeste; 24%, do Norte/Centro-Oeste e apenas 23% do Sul — que também é a região que mais apoia a sua gestão como um todo.

APOIO A RESTRIÇÕES
Dizem-se favoráveis a que as pessoas sejam proibidas de sair às ruas por algum tempo 73% dos ouvidos; apenas 24% se opõem. Para 45%, haverá muitas mortes em razão do coronavírus. Dizem que serão poucas 46%. Afirmam estar com muito medo 36% dos ouvidos; 38% têm um pouco, e 26%, medo nenhum.

Algumas medidas contra as quais o presidente tem se batido de maneira determinada contam, até agora, com amplo apoio dos brasileiros: suspensão de eventos com mais de 100 pessoas (95%); de voos para outros países (94%); das aulas (92%); de jogos de futebol (91%); de cultos e missas (82%). A medida com menos apoio é o fechamento do comércio: 46%.

Segundo a pesquisa, os brasileiros estão tomando as devidas precauções para não se contaminar: deixaram de abraçar outras pessoas (77%); de cumprimentar com aperto de mão (77%); de sair para atividades lazer (76%); de beijar outras pessoas (75%); de sair para ir à escola, faculdade ou curso (55%); de sair às ruas (46%).

Como se nota, os brasileiros acreditam, sim, naquilo em que o presidente parece não acreditar. E o apoio às restrições é massivo. As autoridades que mais as endossam são as mais bem-avaliadas. De toda sorte, a ruindade de Bolsonaro é tal, e sua atuação tão desastrada que a avaliação, entendo, ainda é excessivamente generosa. Parece que os panelaços e buzinaços que passaram a embalar as noites, a partir das 20h, ainda não comoveram seu eleitorado fiel.

O quadro social e econômico tende a se agravar, e Bolsonaro sabe disso. Irresponsável que é, decidiu atribuir desde já a culpa aos governadores. Trata-se de um cálculo mesquinho e eleitoreiro. Vêm dias difíceis por aí, e o valente está afirmando que não tem nada com isso.

Ocorre que, ficasse o país à mercê de suas ideias, e o Brasil seria uma Itália com pouco esgoto e pouca água encanada. 

Não sei, não... A ver. Dados os números, há uma boa chance de Bolsonaro, por incrível que pareça, radicalizar ainda mais a retórica contra os governadores. Afinal, ele fala apenas a seus fiéis.

De toda sorte, a dinâmica do vírus e o flagelo que imporá certamente impactarão na atuação do presidente.

Por Reinaldo Azevedo

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