Nunca antes na história deste país, não é mesmo? Jair Bolsonaro é o primeiro presidente da história a ser alvo de um "esquenta de panelaço".
Já conhecíamos panelaços, claro! O declínio de Dilma Rousseff rumo ao impeachment foi marcado por muitos deles. "Ah, será que eram espontâneos?" Olhem, queridos, estando a saúde em dia, espontâneo é o movimento do intestino — ao menos até certo ponto.
Em política, o espontâneo é sempre provocado. E não há mal nenhum que seja assim. Só não se pode mentir. Vejam o caso dos atos fascistoides contra o Congresso e o Supremo. Quem os chamou de "espontâneos" foi Bolsonaro. Tanto era mentira que ele mesmo participou da patuscada. E, como se sabe, cometendo crime de responsabilidade, ele os havia incitado.
Grupos que se opõem ao governo e que estão insatisfeitos com as barbaridades do presidente nestes tempos de coronavírus marcaram um panelaço para esta quarta, às 20h30. Ele substitui os protestos que estavam agendados e que foram cancelados justamente em razão da expansão da Covid-19. A suspensão, por óbvio, foi a decisão correta e racional.
Sem que se tenha percebido convocação nas redes, ouviram-se — e viram-se — em várias capitais do país panelaços acompanhados de muitos gritos de "Fora Bolsonaro". O protesto, que deve ser ouvido nesta quarta, tem, sim, a marca de uma convocação. O desta terça pegou muita gente de surpresa. A primeira notícia que tive de que algo se passava veio do Rio. Em seguida, começaram a chegar relatos de outras capitais.
Em São Paulo, as panelas cantaram em vários bairros da classe média e média-alta, como Aclimação, República, Consolação, Santa Cecília, Bela Vista, Pompeia, Pinheiros, Perdizes, Higienópolis e Jardins. Até algumas palavras de ordem podiam ser ouvidas, quase sempre relacionadas ao comportamento irresponsável do presidente no caso das medidas contra o coronavírus.
Esta terça também entra para a história como o dia em que houve a primeira morte provocada pelo vírus. Enquanto o resto do mundo toma medidas drásticas contra a expansão da doença, Bolsonaro vai na contramão de todos os chefes de Estado que têm alguma relevância e insiste em minimizar o perigo do vírus, acusando exagero, claro, da "grande mídia".
Nas suas janelas, terraços, sacadas e carros, parte da população expressa seu inconformismo.
Esse é o presidente que, ainda no domingo, em entrevista à CNN Brasil, sugeria que as ruas lhe conferiam autoridade para dar um ultimato ao Congresso.
Acho que não.
Por Reinaldo Azevedo
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