Qual é a fonte que alimenta as convicções de Jair Bolsonaro de que o coronavírus é parte de um complô internacional contra o Brasil, o Ocidente, o capitalismo, sei lá eu...? São os extremistas de direita que ele levou para o governo.
Querem ver? O ministro da Casa Civil, general Braga Netto, é o coordenador do gabinete de crise criado para acompanhar a evolução do coronavírus. Já é uma aberração — é evidente que tal papel deveria ficar com Luiz Mandetta, ministro da Saúde —, mas vá lá.
Na assessoria da Casa Civil, acoita-se um sujeito chamado Felipe Cruz Pedri. O valente escreveu a seguinte pérola no Twitter:
"Vamos ter a coragem de dizer que combater a histeria do caos é mais importante que combater o vírus chinês?
Ou você quer parecer bonitinho na mídia social para a amiga(o) que fez de uma gripe a sua nova bandeira política-humanitária?"
Entenderam? O valentão, cheio de coragem, acha que o combate ao vírus pode ficar em segundo lugar. Em primeiro, vem a "histeria do caos". Como se nota, tramoia de adversários! E ele explicita esse pensamento. Segue conforme o original:
"O uso político do caos por parte de governadores candidatos a Presidência é escandaloso. Instalaram o medo e desencadearam em um país pobre como o Brasil uma especie de cada um por si dentro dos sistemas de abastecimento de comida e remédios."
Pedri, com a clarividência de sempre, escreveu, à época do atentado contra a sede do Porta dos Fundos, que aquilo só poderia ser coisa da esquerda. E ele reiterou à época:
"Escrevi que há muito mais elementos característicos da esquerda no ataque ao Portas (sic) dos Fundos e o esgoto marxista veio abaixo. Isso inclui as False Flags como ferramentas de guerra política".
Vejo esses caras acusando o "esgoto marxista" e fico cá pensando: o que terão lido de Marx? A resposta, obviamente, é nada. Olavo de Carvalho já leu, ou diz que leu, por eles. Então podem fazer essa pose de sábios.
Em tempo: o autor confesso do ataque, como se sabe, era um militante da extrema-direita.
Uma pergunta ao general Braga Netto: o que faz em seu gabinete um "assessor" que chama o coronavírus de "vírus chinês" — e não porque tenha aparecido na China, mas porque está esposando a tese da conspiração — e que opõe o combate à Covid-19 ao crescimento da economia?
Como um chefe da Casa Civil e militar do Alto Comando convive com tamanha manifestação de inteligência, perspicácia e senso moral, general?
Sem contar, não é?, que a Casa Civil deveria facilitar o trânsito do governo com os demais líderes políticos e entes da Federação.
Diga-me cá, general: é isso o que faz o seu assessor?
Parece que servir a Jair Bolsonaro destrói o senso de disciplina, o senso dos disciplinados e o senso dos disciplinadores.
Saia daí, general! Se o senhor não pode demitir esse tal Pedri, então entregue a sua cadeira para ele. Afinal, sendo assim, o cara é seu chefe, não o contrário.
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