domingo, 15 de março de 2020

Carla Zambelli: face filoterrorista do bolsonarismo saúda morte de Bebianno


Ministro Sergio Moro, o Rei das Trevas, discursa no casamento de Carla Zambelli, a sacerdotisa da morte, e diz que ela merece, e faz sentido, uma medalha da caveira. No destaque, deputada comemora a morte de Gustavo Bebianno - Divulgação/PSL
Ministro Sergio Moro, o Rei das Trevas, discursa no casamento de Carla Zambelli, a sacerdotisa da morte, e diz que ela merece, e faz sentido, uma medalha da caveira. No destaque, deputada comemora a morte de Gustavo Bebianno Imagem: Divulgação/PSL

Gustavo Bebianno, advogado e brevíssimo ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, morreu, como sabem, na madrugada deste sábado. Sofreu um infarto em seu sítio em Teresópolis, foi levado a um hospital da cidade, mas não resistiu. O episódio serviu para que franjas do bolsonarismo, mais uma vez, exibissem cauda, chifres e pés voltados para trás, exalando o indisfarçável cheiro de enxofre que empesta o ambiente sempre que essa gente se manifesta.

Falarei sobre Bebianno propriamente em outro post. Este — e nunca imaginei que a profissão me imporia tal pena — terá como gancho a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), a nova sacerdotisa da morte.

Assim que soube da morte de Bebianno, Carla escreveu o seguinte no Twitter -- e depois apagou:
"O Senhor dos Exércitos jurou dizendo: como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará.
Isaías 14:24
Todos os que se colocarem contra o projeto de Deus serão flechados e voltarão, naturalmente, às suas origens"

Ai, ai...
Conheci esta senhora quando ela mendigava a atenção da imprensa liderando um movimento, o Nas Ruas, que era uma espécie de rascunho da cópia do MBL e do Vem Pra Rua. Não vai aqui juízo de valor sobre nenhum dos três. Mas o fato é que Carla não sabia a diferença entre, deixem-me ver, Burke e um pedaço de salame. Duvido que saiba ainda hoje.

Ninguém que a tenha conhecido então suspeitava de sua vocação para citar o Deus dos Exércitos ou exibir qualquer intimidade com o Velho Testamento. Ganhou projeção quando foi adotada por Joice Hasselmann. Estão rompidas já há algum tempo. E, rascunho da cópia também de Joice, dedica-se hoje a roubar, no mercado das ideias mortas, o eleitorado da outra.

É evidente que Carla está celebrando a morte de Bebianno. Repete, assim, o procedimento do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que comemorou a possível contaminação pelo coronavírus de Priscilla Cruz, da ONG "Todos Pela Educação" -- exames descartaram que ela estivesse com a Covid-19. Também ele considerou que se tratava de um castigo divino a quem não se rende ao bolsonarismo. Escreveu:
"Para fechar o bloco de informações sobre Priscila Cruz e sua ONG "Todos pela Educação": CORONAVÍRUS!!!
Salmos 94:23
O Senhor fará recair sobre eles a sua própria iniquidade, e os destruirá na sua própria malícia; o Senhor nosso Deus os destruirá."

Pois é... Quatro integrantes da comitiva que acompanhou Jair Bolsonaro aos EUA contraíram o coronavírus: Fabio Wajngarten, chefe da Secom; Nestor Forster, futuro embaixador do Brasil nos Estados Unidos; o senador Nelsinho Trad (PSD) e Karina Kufa, advogada pessoal do presidente. Pergunta à margem: o que ela fazia na viagem? Por que viajou com o nosso dinheiro? O seu contratante sente falta de algumas aulas de direito no avião presidencial? O próprio Bolsonaro está, digamos, isolado, em observação, e vai fazer um novo exame.

Weintraub não retirou a consideração. Vai ver o presidente tem especial predileção por iníquos.

MENTALIDADE DOS TERRORISTAS 

Isso tudo parece bobagem, uma soma de irrelevâncias? Não sei...

Voltemos ao texto escolhido por Carla — e certamente ela não chegou ao dito-cujo movida por curiosidade intelectual. Alguém anda selecionado passagens para a instrução da bruta. "Isaías 14" pode ser uma das passagens mais terríveis do Velho Testamento se manipulada por vagabundos intelectuais e morais.

Embora traga na origem o perdão que Deus concede a Jacó e a reafirmação da aliança, o que vem depois trata, de fato, da destruição de quem se levantar contra o povo escolhido. Lida a passagem com o seu devido contexto, Isaías aborda a fidelidade do Senhor a quem se submete à sua vontade.

Entendido o trecho de Isaías como uma estratégia para tratar os adversários em qualquer tempo, deslocado para a política e destituído de história e de fundamentação religiosa, estamos diante da justificação da violência mesmo a mais adjeta, o que inclui o terrorismo. Leiam a integra de Isaías 14:1-32

O Senhor terá compaixão de Jacó; tornará a escolher Israel e os estabelecerá em sua própria terra. Os estrangeiros se juntarão a eles e farão parte da descendência de Jacó.

Povos os apanharão e os levarão ao seu próprio lugar. E a descendência de Israel possuirá os povos como servos e servas na terra do Senhor. Farão prisioneiros os seus captores e dominarão sobre os seus opressores.

No dia em que o Senhor lhe der descanso do sofrimento, da perturbação e da cruel escravidão que sobre você foi imposta,

assim você zombará do rei da Babilônia: Como chegou ao fim o opressor! Sua arrogância acabou-se!

O Senhor quebrou a vara dos ímpios, o cetro dos governantes,que irados feriram os povos com golpes incessantes, e enfurecidos subjugaram as nações com perseguição implacável.

Toda a terra descansa tranquila, todos irrompem em gritos de alegria.

Até os pinheiros e os cedros do Líbano alegram-se por sua causa e dizem: "Agora que você foi derrubado, nenhum lenhador vem derrubar-nos! "

Nas profundezas o Sheol está todo agitado para recebê-lo quando chegar. Por sua causa ele desperta os espíritos dos mortos, todos os governantes da terra. Ele os faz levantar-se dos seus tronos, todos os reis dos povos.

Todos responderão e lhe dirão: "Você também perdeu as forças como nós, e tornou-se como um de nós".

Sua soberba foi lançada na sepultura, junto com o som das suas liras; sua cama é de larvas, sua coberta, de vermes.

Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações!

Você que dizia no seu coração: "Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais elevado do monte santo.

Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo".

Mas às profundezas do Sheol você será levado, irá ao fundo do abismo!

Os que olham para você admiram-se da sua situação, e a seu respeito ponderam: "É esse o homem que fazia tremer a terra e abalava os reinos,

e fez do mundo um deserto, conquistou cidades e não deixou que os seus prisioneiros voltassem para casa? "

Todos os reis das nações jazem honrosamente, cada um em seu próprio túmulo.

Mas você é atirado fora do seu túmulo, como um galho rejeitado; como as roupas dos mortos que foram feridos pela espada; como os que descem às pedras da cova; como um cadáver pisoteado,

Você não se unirá a eles num sepultamento, pois destruiu a sua própria terra, e matou o seu próprio povo. Nunca se mencione a descendência dos malfeitores!

Preparem um local para matar os filhos dele por causa da iniqüidade dos seus antepassados; para que eles não se levantem para herdar a terra e a cobrirem de cidades.

"Eu me levantarei contra eles", diz o Senhor dos Exércitos. "Eliminarei da Babilônia o seu nome e os seus sobreviventes, sua prole e os seus descendentes", diz o Senhor.

"Farei dela um lugar para corujas e uma terra pantanosa; vou varrê-la com a vassoura da destruição", diz o Senhor dos Exércitos.

O Senhor dos Exércitos jurou: "Certamente, como planejei, assim acontecerá, e, como pensei, assim será.

Esmagarei a Assíria na minha terra; nos meus montes a pisotearei. O seu jugo será tirado do meu povo, e o seu fardo dos ombros deles".

Esse é o plano estabelecido para toda a terra; essa é a mão estendida sobre todas as nações.

Pois esse é o propósito do Senhor dos Exércitos; quem pode impedi-lo? Sua mão está estendida; quem pode fazê-la recuar?

Esta advertência veio no ano em que o rei Acaz morreu:

Vocês, filisteus, todos vocês, não se alegrem porque a vara que os feria está quebrada! Da raiz da cobra brotará uma víbora, e o seu fruto será uma serpente veloz.

O mais pobre dos pobres achará pastagem, e os necessitados descansarão em segurança. Mas eu matarei de fome a raiz de vocês, e ela matará os seus sobreviventes.

Lamente, ó porta! Clame, ó cidade! Derretam-se todos vocês, filisteus! Do norte vem um exército, e ninguém desertou de suas fileiras.

Que resposta se dará aos emissários daquela nação? Esta: "O Senhor estabeleceu Sião, e nela encontrarão refúgio os aflitos do seu povo".

Será que, como estratégia para destruir o inimigo, o Hamas, por exemplo, repudiaria Isaías 14? Acho que não. Extraio um trecho do seu "Manifesto":
O Profeta, que as bênçãos e a paz de Alá recaiam sobre ele, disse: 'A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por matá-los e mesmo que os judeus se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: 'Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venha e mate-o, exceto se se tratar da árvore Gharkad, porque ela é uma árvore dos judeus.

Até onde pode ir essa gente? Esses palhaços travestidos de fundamentalistas, não duvidem, sairiam correndo se viesse mesmo a fase do pega-pra-capar. Ou vocês imaginam Wenitraub e Carla sofrendo as agruras de guerrilheiros ou combatentes de guerra?

Em si, não representam um perigo, mas são, sim, justificadores do mal. E se nota que a literatura religiosa a que recorrem passa por um filtro, por uma seleção, que, aplicada à política, incita a violência, o terrorismo e a eliminação física dos inimigos. Ou por outra: esses valentes não se impõem pelo terror não porque não queiram, mas porque, por ora, não podem.

E não se distinguem, em essência, do que pensam o presidente da República e boa parte daqueles que o cercam. Por isso, esses valentes têm de ser contidos pela democracia. "Ah, não dê importância excessiva a Carla Zambelli e a Weintraub, Reinaldo!" Não dou!

Mas não tenho paciência histórica com arruaceiros tardios de cervejarias da periferia do capitalismo.

Têm de receber no lombo o relho da Constituição democrática.

Em tempo: a deputada já não é tão burra a ponto de ignorar que sua postagem geraria indignação. Ela a publicou para depois retirá-la. Mas cumpriu a tarefa de alimentar a fome dos jihadistas.

Ah, sim: não por acaso, ao discursar no casamento da deputada, o ministro da Justiça, Sergio Moro, seu padrinho, afirmou que ela mereceria receber a medalha da caveira. O rei das trevas sabe reconhecer a sacerdotisa da morte. Estamos, afinal, no Reino das Trevas. Também da cafonice.

Por Reinaldo Azevedo

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