sábado, 21 de março de 2020

Acordo entre Boeing e Embraer fica no 'fio da navalha' conforme mercados despencam


Combinação de fotos com as marcas da Boeing e da Embraer.  — Foto: Denis Balibouse/Reuters; Roosevelt Cassio/Reuters

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) descartou as objeções dos promotores ao acordo. Mas uma queda nas ações da Embraer e preocupações com dinheiro na Boeing, impulsionadas pelo impacto do coronavírus nas viagens aéreas, foram um golpe para a transação, aumentando a incerteza causada por atrasos na obtenção da aprovação regulatória da União Europeia.

As ações da terceira maior fabricante de aviões do mundo caíram 14% na quarta-feira, atingindo um valor de mercado de cerca de US$ 1,3 bilhão depois de cair dois terços desde que o acordo foi divulgado em 2018, segundo dados da Refinitiv. 

A esse preço, a Boeing assumiria o controle da unidade comercial da Embraer, mas somente após pagar três vezes o valor de toda a empresa. 

A Boeing se ofereceu para pagar US$ 4,2 bilhões em dinheiro por 80% da unidade comercial da Embraer, que fabrica jatos no segmento de 70 a 150 assentos e concorre com o programa A220, recentemente adquirido pela Airbus. 

Tendências recentes "aumentaram as chances de esse acordo não ser concluído", disse Ken Herbert, analista da Canaccord Genuity. 

Embora a Boeing possa, observam os analistas, buscar um preço mais baixo, as promessas firmadas no acordo durante meses de negociações delicadas deixam aos acionistas da Embraer pouco espaço para manobras, exceto uma recuperação acentuada das ações. 

A Embraer planeja pagar um dividendo especial de US$ 1,6 bilhão a seus acionistas com os recursos provenientes da transação. 

O plano colocaria o braço comercial da Embraer, liderado por John Slattery, em um novo empreendimento da Boeing que competiria com o A220 da Airbus e guardaria cerca de US$ 1 bilhão em dinheiro líquido para as unidades de defesa e jatos particulares da Embraer. 

O prejudicado valor de mercado da Embraer ameaça reverter esses cálculos, exceto no caso de uma decisão improvável de renunciar ao dividendo especial ou sobrecarregar a antiga Embraer com dívidas, disseram analistas. 

Plano de apoio

O novo presidente-executivo da Boeing, Dave Calhoun, disse em janeiro que estava comprometido com o acordo. Agora ele deve convencer o conselho da Boeing a correr atrás dele e, ao mesmo tempo, enfrentar críticas no Congresso que estão questionando como os potenciais fundos de contribuintes dos EUA seriam utilizados. 

"Eles estão indo para Washington com as mãos estendidas para um resgate e depois, por outro lado, gastam US$ 4,2 bilhões para concluir o acordo", disse Herbert. 

O bônus de desempenho de US$ 7 milhões de Calhoun, parte de um pacote de três anos atrelado ao preço das ações da Boeing, depende em parte de sua capacidade de fechar o negócio com a Embraer, assumindo a aprovação regulatória.

"Não comentamos publicamente discussões entre as partes ou especulações de mercado. Estamos tratando do processo de aprovações regulatórias e condições de fechamento ainda pendentes", disse uma porta-voz da Boeing. A Embraer não comentou. 

As opções da Embraer, caso o negócio fracasse, não foram amplamente discutidas e os possíveis parceiros para uma aliança são escassos. Mas a Embraer expressou confiança em seu portfólio e continua pressionando para comercializar sua aeronave mais recente, o E195-E2, que apresentou na Inglaterra esta semana.

No G1 Vale

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