Jair Bolsonaro e Luiz Henrique Mandetta, usando máscara protetora, durante entrevista coletiva para anunciar medidas para conter a propagação da doença por coronavírus, em Brasília |
Jair Bolsonaro outro dia usou a figura do técnico de futebol para explicar seu papel no combate ao coronavírus. “Se o time ganha, parabéns a todos. Se vai mal, o primeiro a ser demitido é o técnico. Nosso time está ganhando e de goleada”, disse o presidente.
Depois de três dias de panelaços, de queda de popularidade e, mais importante, de agravamento da crise no país, com aumento no número de infectados e nas mortes, o presidente continua usando a grande tribuna presidencial para atacar os governadores.
“Tem certos governadores que estão tomando medidas extremas que não competem a ele, como fechar aeroportos, fechar rodovias, shopping, feiras. Se comércio parar, o pessoal não tem o que comer. O vírus mata, mas muitos mortos terão sem comida”, disse Bolsonaro nesta sexta.
Aqui, uma explicação. É o próprio governo que alerta para a importância do isolamento social. A Itália paga um alto preço por ter seguido a tática ora estimulada por Bolsonaro. Os técnicos da Saúde se empenham para conscientizar a população sobre a gravidade do vírus, a importância de não sair de casa, enquanto o presidente continua remando contra.
Já está claro que mercados, farmácias e outras atividades de utilidade pública seguirão funcionando. Os setores de abastecimento se empenham em afirmar que não faltarão produtos nas prateleiras, mas o presidente continua dizendo coisas do tipo: “Não podemos levar para o extremismo. Pessoal da informalidade pode ficar até sem comida”.
Nesta quinta, os 27 governadores do país pediram socorro a Bolsonaro em uma carta. Que momento para o governo chamar um encontro e formar uma grande frente uniforme de ações ao vírus, não é mesmo? Mas não. O presidente amanheceu atacando e dividindo novamente.
Bolsonaro não percebeu ainda que os governadores só tomam medidas por conta própria porque já sentiram que não podem contar com um comando central. Se a voz de comando não passa confiança, como é o caso de Bolsonaro, os liderados abaixo começam a adotar as medidas que julgam mais acertadas.
É assim novo governo, é assim numa família, é assim em qualquer lugar. O presidente ainda não percebeu que mesmo o técnico do time tem que entrar em campo nos coletivos para treinar a equipe, orientar, liderar. O presidente segue na beira do gramado criando intrigas, minimizando uma situação grave, minando a estratégia preventiva do seu governo. É um técnico que joga contra sua própria defesa enquanto torce para que tudo dê certo, que o time resolva sozinho.
É certo que o presidente deve estar seguindo o que acredita ser o certo. Mais importante que ouvir os próprios instintos é saber ouvir. O mundo, os técnicos do governo, os médicos e especialistas, todos já apontaram o caminho. Siga, presidente.
No Radar da Veja.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário