Pesquisadores da Fiocruz afirmaram que este é o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil |
Vinte e quatro Estados brasileiros e o Distrito Federal estão com taxa de ocupação de leitos de UTI voltados ao atendimento de pacientes com covid-19 acima dos 80%, sendo que em 15 unidades da federação a taxa está acima de 90%. Os dados foram divulgados nesta terça-feira, 16, em boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que monitora a situação do sistema de saúde em resposta ao novo coronavírus. “Nunca vivenciamos isso”, diz o coordenador do Observatório Fiocruz Covid-19, Carlos Machado.
"Trata-se do maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil", afirmaram pesquisadores da instituição. "É praticamente o País inteiro com um quadro absolutamente crítico."
Veja a evolução na taxa de ocupação de UTI desde o mês de julho do ano passado
Em comparação com dados da semana passada, houve uma melhora em Roraima, onde a taxa de UTI passou de 80% para 73%. Mas no Pará o movimento foi inverso, com a taxa passando de 75% para 81%. Outros cinco Estados que estavam na zona intermediária também subiram para a zona crítica: Amapá (90%), Paraíba (85%), Alagoas (84%), Minas Gerais (85%) e Espírito Santo (89%).
Só o Rio de Janeiro (79%) e Roraima estão abaixo dos 80%, segundo dados coletados até esta segunda-feira. A Fiocruz informou, porém, que a porcentagem já ultrapassou os 80% nesta terça-feira no caso do Rio. O documento aponta também que, em relação às capitais, 25 das 27 estão com taxa de ocupação de UTI superior a 80%, sendo que em 19 delas a taxa é superior a 90%.
Os pesquisadores classificam a situação como “gravíssima” e recomendam o reforço de modo urgente na adoção de medidas não farmacológicas, como distanciamento físico e social e uso de máscaras, e dizem que o lockdown é uma estratégia a ser considerada em situações mais críticas. Essas medidas poderão reverter ou evitar o colapso do sistema, reduzindo os níveis de transmissão e, consequentemente, o número de mortes evitáveis, destacam.
“Um conjunto de indicadores, incluindo as médias móveis de casos e de óbitos e as taxas de ocupação de leitos UTI Covid-19 para adultos, apontam para situação extremamente crítica ou mesmo colapso, em todo o País”, aponta o boletim. O conjunto de ações, dizem os pesquisadores, se faz necessário até que a vacinação seja intensificada e atinja uma ampla parcela da população.
“Neste contexto de crise e catástrofe, a necessidade de adoção rigorosa de ações de prevenção e controle continua se impondo, em um cenário em que o descontrole da pandemia parece se alastrar”, reforçam os especialistas..
“Já tivemos crises e situação de calamidade no sistema, com sobrecarga em alguns Estados e municípios. Mas isso nunca ocorreu de forma sincronizada e sistêmica como agora. Estados não conseguem transferir pacientes mesmo tendo recursos porque o outro local também não consegue receber devido ao colapso”, diz Carlos Machado, da Fiocruz.
Ele destaca a necessidade da ação de medidas muito mais rigorosas, como lockdown, por pelo menos 14 dias. “Não temos outro remédio para adotar nesse momento a não ser medidas de bloqueio e supressão onde a taxa está acima dos 80%. Araraquara é um exemplo, mas esperou chegar aos 100%, com fila de espera, o que pode resultar em um maior número de pessoas mortas. Campanhas precisam preparar a população que isso vai ser necessário de tempos em tempos”, acrescenta Machado.
O boletim cita o caso de Araraquara, no interior de São Paulo, que adotou o lockdown. O resultado foi uma queda de 43% na média móvel diária de novos casos entre 21 de fevereiro e 10 de março. Em relação a internações, o efeito não foi imediato, mas foi sentido posteriormente, chegando a uma queda de 28% em relação ao pior momento do sistema de saúde da cidade.
“O município de Araraquara é um dos exemplos atuais de como medidas de restrição de atividades não essenciais podem não só evitar o colapso ou mesmo prolongamento desta situação nos serviços e sistemas de saúde, resultando na redução da transmissão, casos e óbitos, protegendo a vida e saúde da população”, detalha o boletim.
No Estadão
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