sábado, 27 de março de 2021

Pazuello evolui de gestor extraordinário a estorvo



Diz-se que um graduado militar alemão, em visita ao estúdio de Picasso, deu de cara com uma reprodução de "Guernica", o célebre quadro que mostra a destruição da cidade de mesmo nome em 1937, durante a guerra civil espanhola, "Foi o senhor que fez?", indagou o militar. E Picasso: "Não, não. Foram os senhores."

Aos olhos de Bolsonaro, Pazuello é uma espécie de Picasso da saúde pública. Quando contempla a "arte" do general, o capitão enxerga uma obra-prima, não as mortes por falta de vacinas. "Fez um trabalho extraordinário no Ministério da Saúde", afagou o presidente, depois de demitir o sucesso.

A condescendência de Bolsonaro é natural, pois Pazuello não passa de um batedor de continência. Realizou no ministério uma gestão do tipo "um manda, outro obedece."

Crivado de inquéritos sobre suas ações e omissões na pandemia, o general sempre poderá alegar que não fez senão cumprir ordens. O diabo é que Bolsonaro não enxerga no espelho a imagem de um culpado pela Guernica sanitária em que se converter o Brasil, uma terra arrasada com mais de 300 mil cadáveres.

Ironicamente, o "gestor extraordinário" não consegue uma nova colocação. Bolsonaro cogitou criar um Ministério da Amazônia. Precisaria do aval do Congresso. O centrão sinalizou que votaria contra.

Bolsonaro cogitou entregar para Pazuello o comando do Programa de Parcerias de Investimento, o PPI. Cuida de privatizações e concessões. O pajé da Economia Paulo Guedes levou o pé à porta.

Não restou outra alternativa ao presidente que não fosse devolver o general ao Ministério da Defesa. Que não sabe o que fazer com a mão de obra "extraordinária" de Pazuello.

Na prática, o Picasso da saúde brasileira virou algo que o líder socialista da Espanha Felipe González costuma definir como "vaso chinês". Mesmo quem acha lindo não sabe muito bem onde colocar. Pazuello evoluiu de 'gestor extraordinário' à condição de estorvo. Pode virar coisa pior, dependendo do andamento dos inquéritos em que aparece como corresponsável pela Guernica sanitária.

Por Josias de Souza

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