No planeta Terra não tem governo que se sustente com 300 mil mortos por uma pandemia. Parte da culpa lhe será naturalmente atribuída, tanto mais quando se trata de um governo que fez por merecê-la. É esse o destino manifesto do presidente Jair Bolsonaro sugerido desde já pelas pesquisas de opinião pública.
A mais recente delas, revelada pela revista EXAME, é do instituto Ideia Big Data, que ouviu 1.255 pessoas entre os últimos dias 22 e 24 de março. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A desaprovação do governo Bolsonaro chegou à marca de 49%, a pior desde junho passado (54%).
Se antes era de 30% a porcentagem dos que consideravam Bolsonaro um líder ótimo ou bom, agora é de 25%. Com atraso, as pessoas finalmente começam a dar-se conta da dimensão da tragédia que se abateu sobre o país e de que tudo ou quase tudo dito por Bolsonaro a respeito não passou de mentiras.
Não, não era uma gripezinha ou resfriadinho. Não, a cloroquina e outras drogas não funcionam contra o vírus. Não, não se pode separar a salvação da economia da salvação de vidas. Vidas em primeiro lugar porque, sem elas, não haverá economia robusta. Não, a pandemia não estava no seu finalzinho em dezembro.
Para 77% dos entrevistados, a aplicação das vacinas está atrasada. Nesse quesito houve um avanço de 10 pontos percentuais em comparação ao registrado na pesquisa de 15 de janeiro último. 52% dos brasileiros vão pedir o novo auxílio emergencial – mas desses, 69% acham que menos de 600 reais é muito pouco.
Entre os dias 12 e 16 deste mês, o Instituto Paraná Pesquisas ouviu 2.334 pessoas. Segundo a revista VEJA, 80,4% admitiram que a pandemia dura mais do que imaginavam, e 73,4% que o número de mortos é maior do que o esperado. O medo de perder alguém querido para a doença atinge 48%, com viés de alta.
Pela primeira vez, 20% dos brasileiros atribuem o cenário crítico da pandemia a todos os políticos com cargos eletivos (o índice era de 6% em maio de 2020). Também cresceu a responsabilização de Bolsonaro pelo descontrole da doença. O porcentual é de 29,4%, muito superior aos 11,2% que culpam os governadores.
Dá para dizer que o presidente desperdiçou as chances de virar o jogo na pandemia? Dá, sim, e agora, enfraquecido, corre atrás do prejuízo. O vírus matou até ontem 307.326 pessoas. É mais que o total de soldados do Exército (235 mil) e próximo do total de 335 mil militares da ativa do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Por Ricardo Noblat
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