É cada vez menor a capacidade de Jair Bolsonaro de alterar a realidade. Até bem pouco, quando o presidente se apropriava de uma notícia, os fatos costumavam se perder. Agora, quando ele tenta desvirtuar os fatos, dá de cara com um achado que o deixa ainda mais perdido.
Um dia depois de Bolsonaro aplicar à crise sanitária o seu redutor negacionista —"Chega de frescura e de mimimi, vão ficar chorando até quando?"—, a cúpula do Organização Mundial da Saúde aderiu à pregação dos "maricas".
Chefe da agência da ONU, Tedros Adhanom disse que a situação do Brasil é grave e precisa ser levada a sério. Para ele, esta terra de Palmeiras tornou-se uma ameaça regional, quiçá global.
"Isso não é apenas sobre o Brasil. Mas sobre a região e todos os demais", declarou Tedros. "Se o Brasil não agir de forma séria, vai continuar a afetar toda a vizinhança e demais países".
Mike Ryan, diretor de operações da OMS, ecoou o mimimi: "Estou muito preocupado, os governos e as pessoas pensam que chegamos ao fim desta pandemia, mas não chegamos. A chegada das vacinas contra a covid-19 é um momento de esperança, mas pode ser um momento em que perdemos o foco."
Para Ryan, "entender a dinâmica" do que se passa em território brasileiro "é importante para o resto do mundo". Ele esmiuçou o seu raciocínio:
"Precisamos entender de forma completa a transmissão que ocorre no Brasil para saber a implicação disso tudo, tanto para a vacina como para medidas de controle. Estamos preocupados com a variante P1".
O desprestígio internacional do Brasil cresce na proporção direta da redução do número de vagas nas UTIs e enfermarias dos estados e do Distrito federal. Em várias praças, há mais infectados pela covid do que leitos.
O Brasil está pendurado de ponta-cabeça nas manchetes da imprensa internacional. O que faz de Bolsonaro uma esquisitice planetária.
A Reuters foi uma das agências de notícias que distribuíram pelo mundo despachos sobre o flagelo brasileiro. Informou que Bolsonaro pediu aos patrícios que parem de choramingar, exortando-os a serem corajosos num instante em que o número de mortos bate recordes e a vacina chegou a apenas 3% da população.
O diário americano The Washington Post escreveu que o Brasil é, hoje, uma ameaça para todo o mundo. Realçou a propensão para o surgimento de novas variantes do vírus em território brasileiro.
O jornal britânico The Guardian veiculou comentários de especialistas. Entre eles o neurocientista brasileiro Miguel Nocolelis, professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Nicolelis se referiu ao avanço da covid no Brasil como uma encrenca que ultrapassa fronteiras: "Isso é sobre o mundo. É global".
Por enquanto, duas dezenas de países levantaram barreiras para pessoas procedentes do Brasil. Suspenderam-se voos, negaram-se vistos, impuseram-se quarentenas.
A ficha de Bolsonaro demora a cair. Mas até o presidente brasileiro já deve ter percebido que talvez seja hora de parar de "frescura" e começar a combater a pandemia a sério. Uma boa providência seria trocar o mimimi pelo trabalho.
Por Josias de Souza
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