segunda-feira, 29 de março de 2021

Nome do problema não é Araújo, mas Bolsonaro



Está evidente que o governo tem um problema. Ele tem nome e sobrenome. Se o transtorno se chamasse Ricardo Velez Rodrígues ou Abraham Weintraub, as mudanças no Ministério da Educação teriam resolvido tudo.

Se a encrenca pudesse ser chamada de Eduardo Pazuello, a saída do general da pasta da Saúde teria tranquilizado os brasileiros.

Se o apelido da confusão fosse Ernesto Araújo, como se imagina agora, a queda do pior chanceler que o Itamaraty já conheceu restabeleceria a ordem.

Se o delírio que desafia a administração pública fosse identificado como Ricardo Salles, bastaria mais um golpe de esferográfica para sanear também a pasta do Meio Ambiente.

O diabo é que o problema não se chama Velez, Weintraub, Pazuello, Araújo ou Salles. Chama-se Jair Bolsonaro o verdadeiro problema do governo.

O capitão chegou ao Planalto como solução dos quase 58 milhões de brasileiros que o elegeram. Assumiu uma máquina estatal ideal para a instalação de uma administração pública inteiramente nova. Caos não faltava.

Bolsonaro tornou-se um problema ao fazer uma opção prioritária pela ideologia da trapalhada. Dedica-se à destruição, não à reconstrução do Estado. Não é conservador, mas arcaico.

O presidente não substitui ministros. Por pressão, ele demite a si mesmo das pastas. Na sequência, Bolsonaro se renomeia, acomodando nas poltronas prepostos acorrentados às mesmas idiossincrasias.

A Educação é comandada por uma nulidade chamada Milton Ribeiro, um ministro invisível.

A Saúde foi devolvida a um médico, o cardiologista Marcelo Queiroga, que se esquiva de expor claramente seus planos para fugir do destino do ortopedista Henrique Mandetta ou do oncologista Nelson Teich, expurgados da pasta em plena pandemia.

Para o Itamaraty, Bolsonaro busca um novo Ernesto. No Meio Ambiente, não colocará senão um Salles qualquer.

Muitos confundem bagunça com atividade, general com generalidade, teimosia com tenacidade.

Sob Bolsonaro, entretanto, cada "nova" boça revela-se a mesma boçalidade. A diferença é que, agora, o capitão confunde centrão com lealdade.

Logo perceberá que presidente não é divindade. Isso ocorrerá quando os atores de Brasília concluírem que o instinto de sobrevivência não orna com mortandade.

Por Josias de Souza

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