Na fase mais dramática da pandemia, com elevação expressiva do número de mortes e risco de colapso nacional do sistema de saúde, o presidente da República e os governadores voltaram a trocar sopapos verbais. Não parece ser uma boa hora para briga. É preciso notar que, na administração pública, há três formas de aprender o que deve ser feito.
Primeiro, por planejamento, que é o mais trabalhoso. Exige discernimento para se antecipar aos problemas. Segundo, por imitação, que é o mais cômodo. Permite copiar experiências bem-sucedidas. Terceiro, pelo tropeço. É o caminho mais lento e doloroso, porque antes de chegar ao acerto será necessário levantar, reconhecer os erros, conter os danos e contabilizar os prejuízos que se revelarem irreversíveis. O Brasil parece ter escolhido a terceira opção.
A inexistência de um comitê nacional de gerenciamento da crise, a vacinação a conta-gotas e os mais de 250 mil mortos são evidências de que não houve um planejamento adequado. O ineditismo da crise do coronavírus impediu que se recorresse à imitação. A gripe espanhola, penúltima assombração sanitária, ocorreu há mais de 100 anos. Não havia soluções fáceis disponíveis na prateleira. Foi preciso tomar atalhos para retardar o contágio até a chegada das vacinas.
Nos últimos dias, Bolsonaro retomou uma linha de confronto com os estados. Colocou em dúvida a serventia das máscaras, criticou medidas restritivas e disse ter feito a sua parte, liberando verbas. Os governadores lamentam os modos de Bolsonaro, questionam as contas do governo e sustentam que o repasse de verbas é obrigação constitucional, não uma concessão.
Em época de crise, governantes devem colecionar soluções, não inimigos. Pior do que uma crise, só duas crises. A conjuntura demonstra que, numa pandemia, a combinação da crise sanitária com a crise política conduz à UTI. Nesse tipo de briga, o brasileiro entra com a cara. Ou com a vida.
Por Josias de Souza
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