"Hoje é um dia difícil para todos os brasileiros. Atingimos um grave momento da pandemia. (...) A todos vocês, quero dizer que estamos trabalhando firmes para mudar esse quadro. Não somos uma máquina de fabricar soluções, mas seres humanos focados na resolução de problemas".
São palavras do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o homem que veio ao mundo sem ego — o que se revela na sua relação com Jair Bolsonaro — e também sem superego: e isso se evidencia na rua relação com o mundo.
Vale dizer: Pazuello não existe.
Em seguida, ele anunciou que o país iniciou tratativas para a compra de 138 milhões de vacinas da Pfizer e da Johnson & Johsnon. O cronograma de entrega se estende até dezembro. O governo também tenta adquirir 10 milhões de doses da Sputnik V. Os protocolos de aquisição com as duas primeiras empresas nem mesmo foram firmados.
É evidente que, se o governo tivesse acreditado nas análises — e não previsões de feiticeiros — feitas pelos especialistas, o país não estaria vivendo esse sufoco. Vacinas já teriam sido compradas, e haveria mais previsibilidade e menos mortos.
Agora, o caos está aí. Mas não pensem que Jair Bolsonaro se emendou. Em conversa com aqueles desocupados que dão plantão às portas do Alvorada, afirmou que, se depender dele, não haverá lockdown no Brasil.
Nunca noticiamos, com exceções, direito a coisa na imprensa. Jamais houve lockdown no Brasil, a não ser em áreas muito específicas — não, ao menos, aquela paralisação a que se assistiu em países europeus. Tivemos medidas ora mais severas, ora menos. Nunca optamos por parar tudo, mantendo apenas os serviços de saúde, segurança e infraestrutura. Isso é lockdown.
Contaram-se ontem 1.840 mortos no levantamento do consórcio de veículos de imprensa e 1.910 no divulgado pelo Ministério da Saúde. É uma marca alarmante e, infelizmente, as perspectivas não são boas porque o sistema de Saúde de parte considerável do país está colapsado.
Se, na primeira onda, a falta de UTIs era um problema de uns poucos estados ou de algumas regiões dentro deles, agora não! Estamos falando de um colapso quase generalizado.
Por incrível que pareça, o Ministério da Saúde, chefiado por aquele ser sem ego e sem superego, não fez ainda uma campanha nacional defendendo o distanciamento social sempre que possível e o uso de máscaras, condenando as aglomerações. Trata-se de uma omissão criminosa.
Sem citar números, o ministro disse que "as variantes nos atingiram de forma agressiva". Pois é...
Quanto mais o vírus circular, quanto mais pessoas ficarem doentes, mais os vírus vão se multiplicando, com a possibilidade de haver erros nessas cópias, que dão origem a novas variantes.
Mas, como sabemos, não é essa a opinião de Jair Bolsonaro. O presidente tem suas próprias concepções sobre os vírus, O saber científico não faz a sua cabeça. Ele prefere apostar na cloroquina e outras porcarias inúteis.
As sacadas e janelas voltaram a acordar nesta quarta à noite, com panelaços em algumas capitais. Mas o presidente segue alheio a tudo. Na terça, afirmou a seus seguidores que o Brasil está em 20º lugar no mundo em mortos por milhão de habitantes. É mentira! A Universidade Johns Hopkins, que faz uma conta rigorosa, coloca o Brasil em 10º lugar. Ocorre que a população de idosos por aqui é muito menor do que a de alguns países com uma taxa de mortalidade maior. Não duvidem: o país disputa a liderança na mortandade de idosos.
Na terça, com o recorde anterior de mortos, o presidente aproveitou para saborear um leitão no espeto, numa farra gastronômica no Palácio da Alvorada. Vamos ver como ele pretende comemorar o novo recorde de cadáveres nesta quinta.
Numa coisa Pazuello está certo: eles não são uma máquina de fabricar soluções. Entre a incompetência e a delinquência, são uma máquina de fabricar cadáveres.
Por Reinaldo Azevedo
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