Com mais de duas décadas de atraso, Fernando Henrique Cardoso fez um mea culpa por ter guerreado pela aprovação do instituto da reeleição, em 1997. Agiu em causa própria, pois foi reeleito no ano seguinte. "Devo reconhecer que historicamente foi um erro", escreveu o ex-presidente tucano em artigo publicado no final de semana. De fato, a reeleição não fez bem à democracia brasileira. Nasceu de uma votação viciada pela compra de votos. E sobrevive como uma espécie narcótico.
Em tese, se um presidente exibe desempenho que justifique seu desejo de permanecer na cadeira, é bom que se recandidate. O problema é o que os inquilinos do Planalto não conseguem separar o presidente do candidato. Intimados pela conjuntura a entregar austeridade e reformas, acabam viciados no entorpecente do populismo fiscal. É como se comprassem popularidade com cheque sem fundos.
Na época de FHC, Lula e Dilma criavam-se no Planalto situações do tipo Dr. Jekyll e Mr. Hyde —médico e mostro—, com o candidato aproveitando-se de distrações do presidente para ocupar o seu corpo e usar a máquina do governo eleitoralmente, às gargalhadas. Com Jair Bolsonaro é diferente. Ele eliminou a fase da dissimulação. Na campanha, disse que não disputaria um segundo mandato. Mas se desdisse logo depois da posse. Antecipou em quatro anos a sua própria sucessão. Foi como se dissesse: o governo é meu, uso a máquina como quiser.
Bolsonaro chegou ao Planalto com duas bolas quicando na grande área da popularidade: a Lava Jato e a retomada da economia. O combate à corrupção escapou pela brecha da rachadinha. E a promessa de prosperidade resultou num pibinho de 1,1% em 2019, quando ainda não havia coronavírus.
Agora, com pandemia e recessão, Bolsonaro planta bananeira dentro do Orçamento da União. FHC prevê que o ministro Paulo Guedes, da Economia, terá de autorizar os saques por conta do déficit público. FHC já foi ministro da Fazenda e presidente. Deu cambalhotas para obter um segundo mandato. Melhor não discutir com um especialista.
Por Josias de Souza
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