Jair Bolsonaro deixou de ser imprevisível. Tornou-se um presidente terrivelmente previsível. Quando Bolsonaro decide falar sobre algum problema, muitos dos que o escutam por vezes ficam com a incômoda sensação de que há males que vêm para pior. Num instante em que os satélites informam que as queimadas no Pantanal cresceram mais de 200% e já varreram uma área maior que a de um Estado como Sergipe, o presidente achou que seria uma boa ideia declarar que o Brasil é um "exemplo para o mundo" em matéria de preservação ambiental.
É muito bom que um presidente considere o seu país exemplar. Mas para que as coisas fiquem claras, Bolsonaro precisa responder: exemplo de quê? Numa evidência de que tem a exata noção das repercussões do drama ambiental, Bolsonaro declarou que concorrentes do Brasil se aproveitam das nuvens de fumaça para prejudicar o agronegócio brasileiro no exterior. O problema é que, diante de um acerto no diagnóstico, o presidente age como aliado da moléstia.
Quem olha ao redor observa que, desde a posse de Bolsonaro, órgãos como o Ibama e ICMBio, que existem para importunar criminosos ambientais, foram desossados. E nada surgiu no lugar. Verifica-se na outra ponta que pessoas que vivem de invadir, desmatar e incendiar operam num ambiente de rara liberdade. Prevalece a sensação de que o governo está do lado dos criminosos. Bolsonaro diz que países que criticam o Brasil já queimaram suas florestas. E daí? Por isso o Brasil deve atear fogo as próprias vestes?
O presidente tornou-se previsível porque se especializou em brigar com o bom senso. A pandemia pede proteção? O presidente contesta o uso de máscaras? A vacina está a caminho? Bolsonaro declara que ninguém é obrigado a se vacinar. As queimadas ameaçam o acordo Mercosul-União Europeia? Bolsonaro se abraça à banda troglodita do agronegócio e aos mineradores ilegais. O presidente acha que está cavalgando uma agenda conservadora. Engano. Conservadores foram Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Bolsonaro é arcaico. Isso terá um custo.
Por Josias de Souza
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