Líder de Jair Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros tornou-se alvo de uma investigação do Ministério Público do Paraná. O caso envolve corrupção e lavagem de dinheiro. Acusam-no de receber mais de R$ 5 milhões em propinas entre 2013 e 2014, quando era secretário de Indústria e Comércio do Paraná.
O que há de mais desalentador nessa notícia é a naturalidade com que ela foi recebida em Brasília. No circuito Congresso-Planalto-Esplanada dos Ministérios, ninguém fez a concessão de um ponto de exclamação. O Poder se espanta cada vez menos com inquéritos criminais. Se a polícia bate à porta do endereço de um poderoso, a oligarquia reage com bocejos.
Um detalhe conspira a favor da aceitação do inaceitável: o convívio com a suspeição tornou-se banal no Planalto. Candidato, Bolsonaro vendeu-se como opção antissistêmica. Presidente, acertou-se com o MDB e o centrão, dois aglomerados políticos protossistêmicos.
Expoente do PP, Ricardo Barros foi líder dos governos FHC, Lula e Dilma. Serviu como ministro de Temer. Antes de acomodá-lo na liderança do governo na Câmara, Bolsonaro havia confiado a liderança no Senado a Fernando Bezerra. Filiado ao MDB, Bezerra é antigo apoiador de Lula. Foi ministro de Dilma. Também é investigado por suspeita de desviar R$ 5,4 milhões em verbas públicas.
A serventia de Barros e Bezerra para Bolsonaro está associada mais à sobrevivência política do que à articulação de reformas liberais. A preocupação com MDB e centrão não é banal. Foi sobretudo graças à junção dos interesses desses grupos que Temer salvou-se de três denúncias criminais e Dilma foi mandada para casa mais cedo.
A exemplo do sapo de Guimarães Rosa, que não pula por boniteza, mas por precisão, é por necessidade que Bolsonaro encosta sua esgarçada nova política nos profissionais do ramo.
Por Josias de Souza
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