No dia em que recebeu uma carta assinada por oito países europeus (Alemanha, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Noruega, Reino Unido e Bélgica) dizendo que o aumento do desmatamento por aqui dificulta a compra de produtos brasileiros, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República e comandante do Conselho da Amazônia, teve uma ideia.
Que tal convidar embaixadores de países que criticam a política ambiental do Brasil para conhecer a Amazônia? É o que fará, segundo disse. A viagem deverá acontecer no final de outubro. “Para não ficar uma coisa tendenciosa”, segundo o general, serão também convidados embaixadores “de outros lugares” que não criticam tanto a política ambiental brasileira, ou a falta de uma.
É razoável imaginar que o objetivo da viagem planejada por Mourão seja o de convencer os embaixadores, e por meio deles os governos dos seus países, que a Amazônia vai bem, obrigado. Ou que pelo menos não vai tão mal como se diz lá fora. Para isso será decisiva a escolha do pedaço a ser mostrado. Mostre-se um grande pedaço exuberante, e talvez um pedacinho chamuscado.
Se só forem apresentados à Amazônia ainda intacta, os embaixadores poderão achar que foram feitos de bobos, e que a viagem não passou de uma tentativa malsucedida de relações públicas. Como se isso fosse possível… Sairia mais barato então presenteá-los com um vídeo antigo de Jacques Cousteau, o célebre documentarista, cineasta e oceanógrafo francês.
A Amazônia de hoje é retratada em tempo real por dezenas de satélites que giram por aí e que oferecem suas imagens na internet. O que de fato desejam os embaixadores dos países que mais reclamam é que o governo Bolsonaro preserve a Amazônia, um patrimônio mundial e não somente nosso. Acumulam-se os avisos de que a não ser assim, haverá pesadas retaliações econômicas.
Se Mourão, Bolsonaro e associados duvidam, espere para ver só.
Por Ricardo Noblat
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