terça-feira, 1 de setembro de 2020

Agenda eleitoral desafia responsabilidade fiscal




Jair Bolsonaro é eleito presidente e interrompe série de vitórias do PT |  Eleições 2018 | G1

Operando em modo de reeleição, Jair Bolsonaro submete a área econômica do seu governo a um desafio: encaixar o populismo presidencial num Orçamento que roça o teto de gastos. Bolsonaro encantou-se com o Renda Brasil, primo mais gordo do Bolsa Família, e com uma agenda de inaugurações de obras. Nos dois casos, é preciso providenciar recursos. Que não virão sem a aprovação de reformas. O problema é que o presidente pega em lanças por suas pautas eleitorais e negligencia as reformas.

Para levar à vitrine um novo programa de renda mínima e inaugurações de obras, Bolsonaro força a porta do cofre e assume o papel de articulador político do governo. Dedica-se no momento a articular a prorrogação do auxílio emergencial até o fim do ano. Antes, mandava propostas ao Congresso no improviso. Agora, reúne-se com líderes partidários, para combinar o jogo previamente. O governo terá de reduzir o vale corona de R$ 600 para algo em torno de R$ 300, preparando a transição para o Renda Brasil. E o presidente quer evitar que o Congresso aprove um valor maior, o que obrigaria a assumir o ônus do veto.

Há duas semanas e meia, quando Paulo Guedes disse em voz alta que ministros fura-teto empurravam Bolsonaro para uma zona de impeachment, o presidente fez uma reunião no Alvorada para dizer que não abre mão do teto de gastos. Desde então, ele não fez nada que demonstre que falava sério. Ao contrário. Ele exibe um comportamento que põe em dúvida seu compromisso com a responsabilidade fiscal.

A consciência social de Bolsonaro é um fenômeno novo. Em julho do ano passado, num café da manhã com jornalistas estrangeiros, o presidente disse que não havia fome no Brasil. É bom que a popularidade proporcionada do vale corona tenha provocado uma metamorfose em Bolsonaro. Mas convém compatibilizar o populismo de resultados do presidente com uma noção qualquer de responsabilidade fiscal. Do contrário, corre-se o risco de ressuscitar a inflação. E num país inflacionário, o problema dos trabalhadores e dos beneficiários de programas sociais é que cada vez mais sobra mês no fim do salário e do benefício.

Por Josias de Souza

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