sexta-feira, 1 de maio de 2020

Bolsonaro vira um conto do vigário em que Moro caiu


AFP

Na forma, o desembarque de Sergio Moro foi a conversão de um ato administrativo —o pedido de demissão— em espetáculo. No conteúdo, Moro se expressou como um navio que abandona os ratos. Agora, chamado de mentiroso por Jair Bolsonaro e torpedeado pela milícia bolsonarista nas redes sociais, o ex-juiz da Lava Jato soa como se tivesse potencial para levar o governo a pique.

"As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar", declarou à revista Veja. Moro empilhou evidências do descompromisso de Bolsonaro com o esforço anticorrupção: o esvaziamento do Coaf, a lipoaspiração do projeto anticrime, a sanção do juiz de garantias, o namoro com prontuários do centrão e, por último, a demissão do chefe da Polícia Federal. "Foi a gota d'água", afirmou. 

Analisando-se a lista de Moro, gota d'água vira eufemismo para gota ácida. Difícil compreender como um magistrado de mostruário, com 22 anos de janela e uma Lava Jato na biografia, tenha demorado um ano, quatro meses e inúmeras gotas tóxicas para perceber que Jair não era aquele Bolsonaro que se vendera na campanha como uma novidade com 28 anos de vida parlamentar.

A demora para a caída da ficha leva Moro a tratar Bolsonaro como uma espécie de conto do vigário em que ele caiu. O figurino de tolo não orna com a imagem do personagem que encarcerou a fina flor da oligarquia política e econômica do país. O ex-ministro disse que nunca teve a intenção "ser algoz do presidente ou prejudicar o governo." 

Suprema ironia: pela primeira vez em sua história, Moro busca a condenação de alguém para inocentar a si próprio. É como se pleiteasse, com sua delação, o perdão por ter cometido o crime da ingenuidade. Algo que, para um juiz, mereceria a pena do vexame perpétuo.

Por Josias de Souza

Um comentário:

AHT disse...

Sem essa de, "TODOS têm que TORCER sobre TUDO que pintar na IMPRENSA."

Não adianta assistir mais uma vez a vaca indo pro brejo, aguardando pela próxima eleição para tentar corrigir e já sabendo que tudo continuará na mesma.

Ao invés de torcer, tendo escolhido por uma das torcidas, é melhor votar com zelo. Se não houver opções confiáveis, simplesmente anular o voto.

Seja qual for o cargo, se constatado que o eleito cometeu atos de corrupção, ou por incompetência ou negligência causou prejuízos aos cidadãos e ao Estado, a solução é simples: marcar dias, horários e locais para manifestações "FORA _ _ _ _ _!"

Se as Instituições não reagirem, também é simples e eficaz: observando-se a respectiva esfera federal, estadual ou municipal do cargo em questão, TODOS - sem exceção - e até que a reivindicação seja atendida, devem reagir desde manifestações contundentes e até com a suspensão dos pagamentos de TUDO quanto for impostos e taxas.

Sim, cancelar os pagamentos de impostos e taxa, apelando ao mesmo princípio adotado pelo Estado, e igualmente simples: “Agir no bolso do cidadão através de multas é uma forma de educa-lo a não cometer infrações.” Ora, o inverso também é verdadeiro e justo!

E, assim de "Fora _ _ _ !" em "Fora _ _ _!" as instituições executivas e legislativas passarão por um processo de purificação ao extirpar da vida política os corruptos, incompetentes e negligentes.

Quanto ao Judiciário, ao assistir esse utópico processo de purificação dos manos Executivo e Legislativo, entenderá perfeitamente o recado. Se não entender...

Utopia, tudo continuará como sempre foi?

Ó raios e trovões! Quando e quem foram aqueles que nos impuseram esse karma de eternos torcedores?

AHT
02/05/2020