Não é verdade que Jair Bolsonaro sofra de insanidade. Ele usufrui dela com extraordinário prazer. O problema não está no gozo que a falta de senso proporciona ao personagem. O insuportável é que, sendo o insano momentaneamente presidente, ele queira impor ao Brasil a sua loucura.
O país foi convertido em zona de guerra. Os brasileiros são torpedeados em duas frentes. Numa, o coronavírus mata em escala pandêmica. Noutra, o Brasil sofre ataques do seu próprio presidente. Bolsonaro diz "e daí?" para os milhares de mortos e propaga o vírus da anarquia institucional.
No exercício cotidiano do seu descaso sanitário, Bolsonaro tomou gosto pelas aglomerações, especialmente as de conteúdo golpista. É como se o presidente de 57,7 milhões de votos sonhasse com uma democracia sem Legislativo e sem Judiciário, na qual ele comandaria o governo civil mais militar que o país já conheceu.
Por sorte, Bolsonaro ainda não realizou o seu sonho. Ao contrário, conspira a favor da realização dos seus piores pesadelos. Há duas semanas, discursando para um ajuntamento de golpistas na frente do QG do Exército, Bolsonaro proclamou: "Não queremos negociar nada."
Neste domingo, Bolsonaro ornamentou outro ato antidemocrático. A pauta da manifestação sofreu dois acréscimos. Além das pauladas retóricas no Congresso e no Supremo, houve pancadaria contra jornalista e xingamento a Sergio Moro, o mais novo "comunista" dos devaneios bolsonaristas.
Dessa vez, Bolsonaro afirmou que não vai mais "admitir interferências" no seu governo. "Chegamos no limite", disse. "Acabou a paciência." Ele espera não ter problemas durante a semana. Do contrário, "não tem mais conversa". A Constituição "será cumprida a qualquer preço."
Bolsonaro esclareceu que não está só. Enxerga do seu lado "o povo", "as Forças Armadas" e "Deus". Quer dizer: a era bolsonarista transcorre em dois mundos: o de Bolsonaro e o real.
No mundo de Bolsonaro, uma aglomeração de adoradores se confunde com "o povo". Generais que fracassam na tentativa de presidir o presidente simbolizam o "apoio" dos quarteis. E o populismo místico do presidente estimula nas almas mais ingênuas a crença em uma aliança do governo com o plano celestial.
No mundo real, ouve-se nas janelas e nas varandas o som das panelas. Escuta-se ao fundo o silêncio constrangido dos comandantes militares. De resto, a conversão de personagens como Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto em heróis da resistência revela que Deus está acima de todos mas terceirizou ao Tinhoso as negociações com o centrão.
No mundo de Bolsonaro, o presidente "chegou no limite". No mundo real, Bolsonaro ultrapassou todos os limites. Contra o coronavírus não há outro remédio que não seja o isolamento social que Bolsonaro desrespeita. Por sorte, contra o vírus da anarquia institucional há vacina disponível. Chama-se Constituição.
Bolsonaro ainda não notou, mas o país vem se imunizando contra o vírus presidencial. A despeito dos seus arroubos, o presidente manda cada vez menos. Suas decisões são refeitas e desfeitas ora no Congresso, ora no Supremo. Cresce nos poderes vizinhos a impressão de que talvez seja necessário aumentar a dose da vacina.
Por Josias de Souza
2 comentários:
Cantinho da Ficção
"Qualquer semelhança com fatos atuais é mera coincidência"
O ódio e conflitos estão sendo incutidos e provocados por obcecados pelo poder, através de radicalistas mais próximos dos mentores. O passo seguinte será o crescente aumento de bandos de fanáticos e ações em defesa dos direitos daqueles que marcham rumo à verdade que liberta. Se conseguirem o que intentam, é certo que o autoritarismo estará cada vez mais próximo. Do autoritarismo ao totalitarismo é só o ditador começar a sentir o medo de ser destronado.
A História da humanidade se repete. Por que nos privilegiaria com um script adaptado e nada drástico? Só por que brasileiro é tão bonzinho?
Depois de tudo consumado, não adianta rezar "Santa Ingenuidade, zelai e intermediar por nós...".
AHT
04/05/2020
Os petralhas estão convenientemente hibernados e aguardando pelo sinal de despertar a ser dado pelos Ajudantes de Ordem da cúpula lulopetista. Simplesmente, o lulopetismo está dando um tempo para o bolsonarismo e seus bolsotralhas mostrarem seus pontos fracos. Petralhas e Bolsotralhas são meios-irmãos igualmente problemáticos.
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