segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Witzel descobre o real significado de "Cría cuervos y te sacarán los ojos"


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Witzel só se elegeu porque foi beneficiário do moralismo estúpido, que nada tem a ver com moral, que o lavajatismo difundiu no país, de que Jair Bolsonaro é o fruto mais envenenado. Como esquecer que o juiz da força-tarefa no Rio, seu então amigão Marcelo Bretas, tornou público, a três dias da eleição, o depoimento de Alexandre Pinto, ex-secretário de Eduardo Paes, acusando o ex-prefeito e então seu adversário na disputa pelo governo de ter recebido propina da Odebrecht, o que era negado até pelos delatores da empreiteira? Nunca houve e não há a menor evidência disso. Witzel, agora, denuncia armações muito críveis que alcançam até Sergio Moro. Mas também essa Inês é morta, doutor!

A encalacrada em que se meteu o governador afastado não é pequena. E, reitero, ele está sendo engolfado pelos métodos tradicionais da Lava Jato. Querem ver? O escritório de advocacia seu mulher, Helena Witzel — escritório de uma pessoa só: ela própria —, passou a receber, a partir do ano passado, R$ 15 mil mensais da DPAD Serviços Diagnósticos, que tem como sócios Alessandro Duarte e Juan de Paula, que são ligados ao empresário Mário Peixoto, que já está preso, acusado de comandar um esquema de superfaturamento envolvendo a Secretaria de Saúde que remontaria ainda a Sérgio Cabral.

Digamos que se possa achar estranho o pagamento, dado que não consta que Helena, antes, fosse uma advogada atuante. Ocorre que, junto com essa acusação, vem uma outra: o governador estaria tentando montar um supercaixa de estupefacientes R$ 400 milhões, que decorreriam de desvio de 5% de todos os contratos do governo, de todas as secretarias. Com a devida vênia, acreditar nisso é coisa de tolos. Não faz o menor sentido. Nem Cabral roubava de todas as secretarias. E isso só nos diz o que espera o governador afastado.

Pior: há contra Witzel o alinhamento de todas as vertentes das práticas de estado policialesco com as quais ele parecia conviver muito bem e das quais se mostrava íntimo. Tanto é assim que, nos primeiros meses, seu governo ofereceu carne preta, pobre e morta em abundância para evidenciar que lá estava um homem durão com o crime. Nunca a bala perdida achou tantas crianças. Também pobres e pretas.

Ocorre que o caso Flávio Bolsonaro o fez desviar o olhar para Brasília, e o presidente da República cismou que ele estava por trás de ações do Ministério Público do Estado e da Polícia para prejudicar o seu rebento. E Witzel foi jurado de morte política ao menos. A pandemia levou os governos a relaxar os critérios para compras emergenciais, o que excitou a imaginação dos larápios, mas também a sanha punitivista da PF, do MPF e de setores do Judiciário.

O Planalto deu a senha, e os outros entes responderam: "Vamos para cima dos governadores"

E Witzel era o primeiro da fila.

Os estonteantes R$ 8,5 milhões em dinheiro vivo encontrados em endereços de Edmar Santos, ex-secretário da Saúde, evidenciam que muita safadeza se fez por lá, sim.

Mas não se afasta um governador desse modo, com tão pouco tempo de investigação, com base apenas e por enquanto, na delação de um larápio assumido.

Por mais detestável que seja esse governador. Por mais que ele seja Witzel.

Como é mesmo o ditado? "Cría cuervos y te sacarán los ojos".

Ele é só o primeiro. Outro virão.

Por Reinaldo Azevedo

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