quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Novo líder do governo já quis 'demitir' Bolsonaro


 Agência Brasil .

Jair Bolsonaro é capaz de tudo para consolidar sua aliança com o centrão. Admite inclusive engolir sapos. Teve de digerir um batráquio indigesto ao acomodar o deputado Ricardo Barros (PP-PR) no posto de líder do governo na Câmara.

Em setembro do ano passado, irritado com a avareza do Planalto na distribuição de verbas orçamentárias, Barros acenou com a hipótese de "demitir" o presidente.

"Se precisar demitir o presidente nós demitimos, ele não pode demitir o Congresso", disse o deputado há onze meses. "A palavra final é nossa, ele é que tem que querer estar de bem conosco. Se ele não quer, está ótimo para nós. O Congresso está vivendo um ótimo momento com essa independência."

Antes de alçar o voo que o levou do baixo clero da Câmara para o Planalto, Bolsonaro era filiado ao PP, o mesmo partido de Ricardo Barros. Trocou de figurino depois que a Lava Jato tirou o centrão de moda. Agora, o presidente parece convencido de que o centrão é, no fundo, a própria moda.

Bolsonaro rendeu-se a uma expressão que vem do francês: prêt (pronto) + à-porter (para levar). No idioma da moda, significa "pronto para vestir". Transposta para o universo da política, tornou-se representação de sentimentos contraditórios.

Sob o pretexto de que não há como governar sem governabilidade, Bolsonaro recorre ao prêt-à-porter do Legislativo. Sempre na moda, pronto para vestir qualquer governo, o centrão tornou-se a peça mais sensual do mostruário do Congresso.

Ricardo Barros é um prêt-à-porter clássico. Foi ministro da Saúde de Michel Temer. Liderou a bancada governista na Câmara na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Ocupou a vice-liderança nos governos de Lula e Dilma Rousseff.

Agora, o talento do deputado recobre o dorso da administração Bolsonaro num instante em que o presidente se equipa para evitar que o Congresso o demita. Para quem acreditou no lero-lero da "nova política", a junção de Bolsonaro com o centrão parece démodé. Porém...

A exemplo do que ocorre no mundo das passarelas, na política nada se cria, nada se transforma, tudo se recicla. Se uma aliança sai de moda, aplica-se uma renda na bainha e —pronto!— volta ficar em alta. O centrão é um modelito sempre pronto para usar. Ou para ser usado.

Por Josias de Souza

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