segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Em dossiê contra 'antifacistas', moradores do Vale têm dados expostos após serem monitorados nas redes sociais



Em cenário que mescla o ‘olho que tudo vê’ da vigilância totalitária do livro ‘1984’, de George Orwell, com revisão tosca do Macarthismo, movimento que nos anos 1950 promoveu nos EUA uma patrulha ideológica de ‘caça aos comunistas’, o Brasil assiste em 2020 a criação de um ‘Big Brother Antifascista’, com o monitoramento de redes sociais de centenas de pessoas, incluindo ‘alvos’ da RMVale.

No documento, ao qual OVALE teve acesso e que foi batizado “Dossiê contra antifascistas”, figuram cerca de mil nomes de todo o país -- entre eles, 22 pessoas de nove cidades do Vale do Paraíba. Esse é o material que teria sido entregue pelo clã Bolsonaro à Embaixada dos Estados Unidos.

O arquivo, que foi elaborado pelo deputado Douglas Garcia (PTB), traz informações como nome, apelido, redes sociais dos monitorados, apelidos, além de fotos e ainda dados adicionais, entre eles se utilizam filtros, seguem páginas ou postam conteúdo contra o fascimo, a favor do comunismo e outros assuntos.

Na região, o documento traz nomes de homens e mulheres que vivem em Caraguatatuba, Cruzeiro, Guaratinguetá, Jacareí, Lorena, Pindamonhangaba, São José dos Campos, Taubaté e Ubatuba.

OVALE entrou em contato com 22 moradores que tiveram informações pessoais expostas pelo documento. Três, que excluíram os perfis com a divulgação do dossiê, não chegaram a ser localizados.

O dossiê engloba pessoas de diferentes profissões, crenças e ideologias. A lista está anexada nos autos de uma das ações indenizatórias ajuizadas contra o deputado.

Em uma delas, Douglas já foi condenado a pagar R$ 20 mil a uma mulher que teve informações pessoais compiladas sem autorização no documento.

Apesar de confirmar a autoria do dossiê, o deputado nega judicialmente que seria responsável por vazar as informações dos chamados ‘Antifas’, os quais já classificou como ‘criminosos, terroristas e vândalos’. Segundo o parlamentar, foi ele quem ficou exposto e teve segurança posta em risco após a divulgação do caso.

À Justiça, o representante do Movimento Conservador disse que o arquivo foi entregue à Embaixada dos Estados Unidos pelo filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Eduardo Bolsonaro (PSL).

Em vídeo publicado nas redes sociais, acrescentou que a intenção seria que tivessem ciência de quem tenta entrar no país.

“Vocês sabiam que o senhor presidente Donald Trump, no dia 31 de maio, anunciou que os Estados Unidos da América passarão a reconhecer o grupo ‘Antifa’ como organização terrorista? Pois bem, estou enviando, na data de hoje, para a Embaixada dos Estados Unidos da América e alguns consolados dos EUA aqui, no nosso país, para que eles tenham ciência, um dossiê, com o nome das pessoas em território brasileiro com suspeita de associação e participação ativa nesses grupos”, anunciou Douglas.

Procurada pela reportagem de OVALE, a assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos informou que não tem registro do recebimento de documento listando nomes de supostos antifascistas. neste fim de semana, você confere o depoimento de alguns dos afetados pelo vazamento de informações pessoais.

Por O Vale

Nenhum comentário: