sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Aperta o cerco ao senador Flávio Bolsonaro, o Zero Um



O primogênito do presidente Jair Bolsonaro tem mais o que fazer em setembro do que atender à convocação do Ministério Público Federal do Rio para ser acareado com o empresário Paulo Marinho. Foi o que disseram seus advogados, e, como senador, ele tem de fato o direito de escolher dia e hora para depor.

Marinho disse que às vésperas da eleição presidencial de 2018, Flávio foi avisado por um delegado da Polícia Federal que seu assessor Fabrício Queiroz seria em breve um dos alvos de uma operação de combate à corrupção, e que o fato poderia prejudicar a candidatura do seu pai, líder das pesquisas.

Foi o próprio Flávio quem teria revelado isso à Marinho, na casa do empresário. Queiroz foi demitido no dia seguinte, bem como uma de suas filhas, funcionária do gabinete de Bolsonaro, o pai, em Brasília. Flávio admite a reunião com Marinho, mas nega o teor da conversa. Um dos dois, portanto, mente. Daí a acareação.

Não seria difícil descobrir quem fala a verdade. Segundo Marinho, ao saber que o delegado tinha um comunicado importante a lhe fazer, Flávio mandou três emissários ao seu encontro. A quebra do sigilo telefônico dos três indicaria se eles trocaram informações a respeito, mas um juiz proibiu que isso fosse feito.

Mesmo assim avançam as investigações do Ministério Público Federal e aperta o cerco em torno do senador. Extratos bancários da loja de chocolates de Flávio no Rio mostram depósitos em dinheiro vivo sucessivos, com o mesmo valor, entre março de 2015 e dezembro de 2018. O Jornal Nacional cruzou os dados.

Chama atenção a quantidade de depósitos em dinheiro vivo na conta da franquia feitos de maneira fracionada e muitos com valores redondos. Foram 63 depósitos de R$ 1,5 mil em espécie, 63 de R$ 2 mil e 74 de R$ 3 mil. Dos depósitos no valor de R$ 3 mil, 12 foram na boca do caixa e 62 no terminal de autoatendimento.

Na época, qualquer deposito acima de R$ 10 mil tinha que ser notificado às autoridades de controle financeiro que investigam lavagem de dinheiro. Ao fazer depósitos fracionados para ficar abaixo desse valor, a loja escapava dessa fiscalização, o que reforça a suspeita de ocultação da origem do dinheiro.

Já está provado que a conta pessoal de Flávio recebeu 48 depósitos em dinheiro vivo entre junho e julho de 2017, quando ele era deputado estadual. Os depósitos tinham sempre o mesmo valor, R$ 2 mil, e foram todos feitos no autoatendimento da agência bancária da Assembleia Legislativa do Rio.

De resto, os depósitos de dinheiro vivo na conta bancária da loja de chocolates foram desproporcionais ao seu faturamento, conferiu o Ministério Público, e muitos datam do período em que Queiroz ficava com parte dos salários dos assessores do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio. O esquema da “rachadinha”.

Flávio comprou a loja no início de 2015 e logo nos dois primeiros meses como dono, fez uma retirada de lucro no valor de R$ 180 mil. Seu sócio não fez retirada nenhuma. Estranho? Há muitas outras coisas também estranhas na contabilidade de Flávio e de sua loja que ainda não se tornaram públicas. Ele jura ser inocente.

Só não explica por que um inocente se vale de tantos recursos judiciais para abortar as investigações ou retardá-las.

Por Ricardo Noblat

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