A pandemia deu a Jair Bolsonaro um sentimento de urgência eleitoral. O presidente se deu conta de que, a essa altura, a satanização do petismo perdeu a importância. Foi convencido de que precisa oferecer duas coisas se quiser obter a reeleição: resultados práticos e esperança. Em vez de reinventar a roda, tenta colocar em movimento rodas já existentes. Para apagar da memória do eleitorado o vermelho que sempre estigmatizou, pinta tudo de verde e amarelo. E reembrulha para presente, com laços de fita, o Minha Casa Minha Vida. Fará o mesmo com o Bolsa Família, já rebatizado de Renda Brasil.
A prática não é nova. O próprio Bolsa Família é uma junção de programas criados na gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso. O que interessa é saber se a maquiagem resultará em vantagens efetivas para a clientela pobre. A medida provisória que institui a versão bicolor do Minha Casa Minha Vida traz pelo menos três novidades alvissareiras: reduz a taxa de juros de 5% para até 4,25%. Juros subsidiados. Quem subsidia é o próprio trabalhador, cujo dinheiro depositado no FGTS receberá uma remuneração menor. O governo oferece a possibilidade de renegociação de dívidas em atraso. E abre a perspectiva de regularização de moradias urbanas cujos proprietários não dispõem de escritura.
A estratégia de Bolsonaro mudou. Antes, tudo no governo estava condicionado à agenda de reformas econômicas de Paulo Guedes. Agora, a prioridade de Bolsonaro é reformar o ministro da Economia, forçando-o a ajustar seu plano à nova prioridade do Planalto, que são os programas sociais. Bolsonaro tenta transformar a pandemia em trampolim eleitoral. E não hesita em aplicar programas sociais de adversários. Repete mágicas que já se mostraram eleitoralmente rentáveis.
Paulo Guedes costuma dizer que, nos governos tucanos e petistas, o Brasil foi aprisionado por um esquerdismo social-democrata. Ele disse que libertaria o país dessa prisão. No momento, o ministro tenta evitar que o populismo de resultados de Bolsonaro aprisione o seu liberalismo, até aqui mais presente no gogó do que na vitrine. Guedes se esforça para mostrar a Bolsonaro que, sem bilheteria não há circo. O presidente ergue sua lona eleitoral antes de garantir a sustentabilidade fiscal do espetáculo.
Por Josias de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário