O escritório de advocacia Wassef & Sonnenburg Sociedade de Advogados e o próprio advogado Frederick Wassef, que atuou em diferentes casos para a família Bolsonaro, está sendo investigado em um procedimento do Ministério Público Federal do Rio. As informações constam de um relatório do Conselho do Controle de Atividades Financeiras (Coaf), obtido pelo GLOBO, e enviado para o Ministério Público Federal no Rio, Ministério Público do Rio e para a Polícia Federal há pouco mais de um mês, em 15 de julho.
No documento, o Coaf descreve que "Wassef & Sonnenburg Sociedade de Advogados e Frederick Wassef são alvos de procedimento de investigação criminal por suspeita de peculato, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Maria Cristina Boner Leo e Bruna Boner Leo Silva também são investigadas". O GLOBO apurou que a investigação tramita no âmbito do Ministério Público Federal do Rio, mas não possui relação o caso das rachadinhas do MP-RJ, onde Wassef defendia o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) até a prisão de Fabrício Queiroz, em junho. O objeto dessa investigação é mantido em sigilo.
No relatório, o Coaf cita ainda os pagamentos que o escritório de advocacia de Frederick Wassef no período de 2015 a 2020. Segundo o documento, as duas contas da Wassef & Sonnenburg Sociedade de Advogados receberam créditos em um total de mais de R$ 20 milhões.
"A movimentação a crédito totalizou R$ 20.296.726,00 composta principalmente por teds, docs, transferências, depósitos em cheque, com destaque para a JBS S.A que, segundo informações, teria contratado o escritório para fazer a defesa de seu diretor jurídico e dos proprietários Joesley e Wesley Batista junto ao Supremo Tribunal Federal após o envolvimento da empresa na Operação Lava Jato", descreve o relatório. O pagamento de R$ 9 milhões da JBS foi revelado na semana passada pela revista Crusoé.
Além disso, nas contas do escritório de advocacia de Frederick Wassef, também foram registrados um pagamento de R$ 1,04 milhão da empresa Globalweb e outro para a empresa Maisdoisx Tecnologia em Dobro, que pertence à holding da Globalweb, no total de R$ 1,070 milhão no período que o relatório do Coaf abrange, de 2015 a 2020. O relatório aponta ainda que a conta do escritório foi abastecida em R$ 2,1 milhões pela Computsoftware Informática, empresa que vendeu uma Land Rover preta modelo 2009/2010 para o presidente Jair Bolsonaro em 2015. A Computsoftware Informática pertenceu a Maria Cristina Boner até pouco tempo atrás.
No relatório, o Coaf afirma ainda que a Wassef & Sonnenburg Sociedade de Advogados foi objeto de "comunicações de operações suspeitas motivadas principalmente por resistência ao fornecimento de informações acerca das movimentações havidas na conta da empresa consideradas incompatíveis com a atividade".
Maria Cristina Boner e Bruna Boner Leo Silva, fundadora e presidente do Conselho de Administração da Globalweb Outsourcing e sócia da holding, que possui contratos com o governo federal, disseram que não iriam se pronunciar. A Globalweb disse, por nota, que irá encaminhar requerimentos a todos os órgãos de controle para tomar conhecimento acerca de eventuais investigações em nome dos sócios e/ou das empresas. "Caso exista algum procedimento, a companhia apresentará sua defesa e vai provar que não há qualquer ilicitude nas transações efetuadas. Em relação ao referido advogado, ele atuou para a companhia há cinco anos”, informou a nota. Frederick Wassef afirmou que existe uma perseguição a sua pessoa pelos órgãos públicos do Rio de Janeiro com intenção de atacar a família Bolsonaro e que seu escritório atendeu a JBS em inquéritos policiais.
Globalweb
Na terça-feira, o GLOBO revelou que o advogado Frederick Wassef, que começou a atuar na representação da família Bolsonaro no fim de 2018, recebeu em sua conta pessoal repasses de R$ 2,3 milhões, entre dezembro daquele ano a maio de 2020, de Bruna Boner Leo Silva, uma das sócias da Globalweb Outsourcing, empresa que tem contratos com o governo federal. Bruna é filha de Maria Cristina Boner Leo, ex-mulher do defensor, além de fundadora e presidente do Conselho de Administração da companhia.
Em junho, o GLOBO já havia mostrado que o governo federal suspendeu em 15 de março do ano passado uma multa de R$ 27 milhões aplicada a um consórcio de empresas contratado em 2014, mas que não entregou os serviços previstos pela Dataprev, a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência, vinculada ao Ministério da Economia. Entre os membros do consórcio multado está a Globalweb Outsourcing. O portal Uol mostrou ainda que, durante o governo de Jair Bolsonaro, a holding obteve novos contratos em um total de R$ 53 milhões.
Também na gestão de Bolsonaro, a empresa obteve dois aditivos em outro consórcio junto à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vinculada ao Ministério da Educação, em um contrato questionado pela Controladoria-Geral da União (CGU) — uma auditoria do órgão apontou prejuízo na ata de preços em que ele estava baseado. Após os aditivos, o valor final do negócio chegou a R$ 37,4 milhões, segundo o Portal da Transparência.
Além disso, O GLOBO revelou ainda que Wassef fez um pagamento de R$ 10,2 mil para o médico Wladimir Alfer, o mesmo que atendeu Fabrício Queiroz em dezembro de 2018 no início do tratamento de câncer no intestino e que foi descoberta quando o escândalo das rachadinhas se tornou público.
Antes de publicar a reportagem, O GLOBO procurou Frederick Wassef e ele não retornou aos contatos da reportagem para falar sobre o pagamento. Horas depois, em entrevista à revista Veja, ele disse que o repasse para o urologista se deu depois de um atendimento para ele. "Estive internado no Hospital Albert Einstein ano passado, submetido a uma anestesia geral, e foi feita uma biópsia na minha bexiga, para se constatar se eu estava com um novo câncer ou não. E o médico que procedeu a esse procedimento sério, invasivo, foi o doutor Wladimir Alfer", afirmou Wassef, ao dizer que o exame ocorreu em setembro do ano passado.
O Globo
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