terça-feira, 25 de agosto de 2020

Já passou da hora de Flávio virar réu, o que fará do seu pai um democrata




Flávio todo alegre no papel de vendedor de chocolates. A gente quase se convence de que é essa a sua real vocação, né? - Reprodução/Facebook
Flávio todo alegre no papel de vendedor de chocolates. A gente quase se convence de que é essa a sua real vocação, né? Imagem: Reprodução/Facebook

De vazamento em vazamento, as movimentações suspeitas nas contas do senador Flávio Bolsonaro e de sua incrível loja de chocolates correm o risco, daqui a pouco, de virar a não-notícia. Por que afirmo isso? Porque acho que é chegada a hora de oferecer a denúncia contra o agora senador por, no mínimo, peculato e organização criminosa. Só é preciso que se defina a questão do foro. Leiam o que informa o Globo:

As quebras dos sigilos bancários do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e da loja de chocolates da qual ele é sócio, na Zona Oeste do Rio, mostram coincidências entre datas de depósitos feitos de maneira fracionada, e em espécie, na conta do estabelecimento e retiradas feitas pelo próprio parlamentar.

Documentos do Ministério Público do Rio (MP-RJ) obtidos pelo Jornal Nacional, da TV Globo, indicam que, em ao menos três ocasiões, as transferências feitas por Flávio para sua própria conta pessoal envolveram valores redondos semelhantes aos que haviam sido depositados na conta da loja na mesma data ou poucos dias antes.

As datas coincidentes podem reforçar a tese defendida pelos promotores do MP que investigam o esquema de "rachadinha" no seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), enquanto era deputado estadual. Eles acreditam que a loja era utilizada como uma "conta de passagem" para camuflar a verdadeira origem de recursos injetados no negócio: os salários de funcionários nomeados pelo parlamentar.

De acordo com as informações obtidas pelo JN, a conta da Bolsotini Chocolates e Café recebeu 12 depósitos fracionados totalizando R$ 25.559, em 25 e 26 de janeiro de 2016. Seis operações de crédito envolveram entradas de valores semelhantes, de R$ 3 mil cada. No dia 27, Flávio movimentou R$ 25.555 em direção à própria conta.

O mesmo ocorreu em 21 de novembro de 2017, dessa vez com entrada e saída de recursos em um único dia. Foram depositados R$ 24.566 na conta da loja, por meio de 11 lançamentos fracionados — oito deles com o mesmo valor. Naquela mesma data, Flávio fez uma transferência de R$ 20 mil para si mesmo.

Novamente, em 18 de dezembro de 2017, a entrada e a saída de recursos coincidiram no extrato da loja. Houve 11 depósitos redondos, dez deles no valor de R$ 31 mil, totalizando R$ 35.724. No mesmo expediente bancário, foram transferidos R$ 30 mil para a conta do político.

No total, o MP encontrou registros de 54 transferências bancárias feitas por Flávio entre as reservas bancárias da loja e a dele. Ao todo, o filho do presidente Jair Bolsonaro transferiu R$ 978.225 entre 27 de março de 2015 e 30 de novembro de 2018(...)

RETOMO
A denúncia formal não põe fim às investigações, é evidente. Basta, para que seja recebida, que existam os indícios de crimes -- e eles abundam -- e de autoria: idem. É preciso pôr fim a essa fase de vazamentos de investigações pré-denúncia.

Tão logo se defina a questão do foro — e me parece inequívoco que o lugar de Flávio, de acordo com jurisprudência do Supremo, é a primeira instância —, é preciso que este senhor se torne réu.

O Ministério Público do Rio recorreu contra decisão da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, que retirou o caso 27ª Vara Criminal, na primeira instância, e o enviou para o Órgão Especial do TJ-RJ, composto por 25 desembargadores. O relator no STF é o ministro Gilmar Mendes.

Não! Eu não estou querendo que Flávio vire réu só para que o presidente Jair Bolsonaro refine o seu, como direi?, apreço pela democracia. O Zero Um merece essa condição em razão de eventos como os narrados acima. E há uma penca deles.

Faço, em todo caso, uma aposta: tão logo Flávio seja oficialmente um réu, seu pai vai amansar o ímpeto autoritário. Diminuirá a vontade de chamar aqueles de que não gosta de "bundões". Ou de ameaçá-los com uma porrada na boca.

Por Reinaldo Azevedo

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