segunda-feira, 15 de maio de 2023

Achado da PF complica plano de Bolsonaro de reeditar bordão 'eu não sabia'



Ficou mais difícil sustentar a tese de que o coronel Mauro Cid, preso por fraudar os cartões de vacina de Bolsonaro, familiares e assessores, agiu sozinho. Notícia do Globo informa que a Polícia Federal descobriu que a senha de acesso de Bolsonaro ao aplicativo ConecteSUS, que estava associado ao e-mail de Cid, foi transferida para outro coronel: Marcelo Costa Câmara. Ex-servidor do Planalto, o coronel Câmara integra hoje a equipe de oito assessores a que Bolsonaro tem direito como ex-presidente. Tornou-se inviável para Bolsonaro reeditar o bordão "eu não sabia."

O problema das inverdades é que por baixo das mentiras de Bolsonaro seus protetores precisam acomodar outras camadas de mentiras. Numa primeira camada, há a declaração categórica de Bolsonaro, feita após a batida policial em sua casa: "Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina. Ponto final." Foi como se dissesse, com outras palavras: "O Mauro Cid é que tem que responder!"

A Polícia Federal enxergou na fala do suspeito não um "ponto final", mas reticências —aqueles três pontinhos gramaticais que sinalizam no final das frases que os raciocínios estão incompletos. Numa segunda camada de mentiras, surgiu a sinalização de que o coronel Mauro Cid se dispõe a assumir as culpas sozinho, isentando o ex-chefe.

As tolices ditas por delinquentes subalternos refletem o grau de subserviência de cada um. Será necessário agora forçar o coronel Marcelo Câmara, herdeiro da senha de acesso do cartão mutretado de vacinas de Bolsonaro, a aderir à corrente de cumplicidade, enfiando no enredo uma terceira camada de mentiras.

Bolsonaro será interrogado pela PF nesta terça-feira. O depoimento do coronel Câmara está marcado para o mesmo dia. Na quinta, os investigadores ouvirão Mauro Cid.

Na sexta-feira, será inquirida Gabriela Cid, a mulher do ex-ajudante de ordens. Também beneficiada com um cartão de vacina falso, Gabriela é vista por aliados de Bolsonaro como um fio desencapado. Há dúvidas quanto à disposição da personagem de contribuir com um novo sedimento de inverdades.

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