sexta-feira, 26 de maio de 2023

Lira inferniza 2023 de Lula já de olho em 2026



Em menos de 24 horas, o governo foi do céu ao inferno. Num dia, a Câmara aprovou a nova regra fiscal do ministro Fernando Haddad com uma votação consagradora. No dia seguinte, os parlamentares invadiram o organograma do governo para impor à gestão Lula uma estrutura de dar inveja a Bolsonaro. No Meio Ambiente, por exemplo, desvirtuou-se o ambiente inteiro. Os dois extremos —o celestial e o infernal— têm algo em comum. Ambos trazem as digitais de Arthur Lira.

Dono da pauta, Lira providenciou para que as pauladas viessem depois do afago para demarcar a diferença entre o Legislativo atual e o Congresso dos dois primeiros mandatos de Lula, mais permeável e concessivo. Antes, Lula cultivava os aliados e transacionava com com adversários. Hoje, lida com inimigos. Para toureá-los, faz concessões que desnorteiam aliados e debilitam o governo.

Cavalgando uma oposição de perfil inédito, mais atrasada do que conservadora, Lira injeta 2026 no 2023 de Lula. Antecipa a sucessão em três anos e meio. O imperador da Câmara diz aos aliados que a próxima disputa presidencial será vencida por um candidato de direita. Costuma citar o governador paulista Tarcísio de Freitas.

Lira prevê que um político menos tosco do que Bolsonaro arrastará os 58 milhões de eleitores que optaram por ele no ano passado, adicionando a esse cesto os votos de centro-direita que foram para Lula porque não se identificaram com o radicalismo do capitão. Nessa equação, Bolsonaro vale mais como um cabo eleitoral inelegível do que como candidato.

O governo Lula precisa dar errado para que a bola de cristal de Lira acerte. Por isso, a boa vontade com o varejo das propostas de aroma liberal, como a regra fiscal e a reforma tributária, não se confunde com o apoio à agenda de Lula no atacado. De resto, o imperador se equipa para fazer manter o governo no cabresto, fazendo o seu sucessor no comando da Câmara.

Lira articula desde logo a eleição de Elmar Nascimento, atual líder da bancada do União Brasil, para chefiar a Casa nos dois últimos anos do terceiro mandato de Lula. Elmar obteve sob Bolsonaro o controle da Codevasf, uma estatal por onde as verbas federais escoam pelo ladrão.

Ironicamente, Lula manteve no comando da estatal o apadrinhado do candidato de Lira à sua própria sucessão. Consolidou-se na Codevasf um ninho suprapartidário de desvios que sobreviveu à alternância no Poder. Lula demora a perceber. Mas está financiando com verbas do Tesouro a pavimentação do seu próprio caminho para o inferno.

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