domingo, 7 de maio de 2023

Sombra de Bolsonaro, Mauro Cid estava sempre na cena do crime


Mauro Cid tira celular do bolso de Jair Bolsonaro no Aeroporto de Guarulhos, em 2022

Cenário está armado para que o tenente-coronel pague a conta em nome do capitão

A cena marcou os debates da eleição presidencial. Nos intervalos de cada rinha televisiva, um militar subia ao palco para cochichar com Jair Bolsonaro. Era o tenente-coronel Mauro Cid, preso na quarta-feira pela Polícia Federal.

Nos estúdios de TV, o oficial fardado se destacava entre os civis. Sua presença tinha duplo significado. Simbolizava o uso da máquina na campanha à reeleição e o apoio dos quartéis ao candidato da extrema direita.

Cid foi a sombra de Bolsonaro no poder. Tenente-coronel do Exército, não se limitava às atribuições de um ajudante de ordens, como carregar papéis e atender telefonemas. Também aconselhava o chefe em assuntos políticos e eleitorais.

O militar entrou na mira da PF em 2021, ao organizar live em que o presidente fez ataques à urna eletrônica. O caso o levou a ser indiciado por vazamento de dados confidenciais. A Justiça ordenou a quebra de seu sigilo telefônico, o que daria origem a uma série de novas investigações.

A polícia descobriu que o faz-tudo de Bolsonaro trocava mensagens com extremistas que tramavam um golpe de Estado. Ele também foi indiciado por produzir desinformação sobre a vacina contra a Covid.

Mais tarde, a PF passou a investigá-lo sob suspeita de operar um esquema de caixa dois no Planalto. O dinheiro seria usado para pagar despesas pessoais do presidente e da primeira-dama.

O tenente-coronel ainda se envolveu na tentativa de liberar joias apreendidas pela Receita Federal em Guarulhos. As peças foram trazidas ilegalmente para o país e engordariam o patrimônio da família Bolsonaro. Já no governo Lula, Cid foi o pivô da crise que derrubou o comandante do Exército. Apesar da sua folha corrida, o general Júlio Cesar de Arruda insistia em nomeá-lo para comandar um batalhão em Goiás.

No caso que o levou à cadeia, Cid não agiu apenas a serviço do capitão. Também adulterou dados do SUS para a mulher e as filhas. Em mensagem interceptada pela PF, ele se gabou do próprio negacionismo. “Não vou tomar vacina mesmo. Eu e ninguém aqui em casa”, disse. Mesmo assim, mandou emitir carteirinhas falsas para que a família pudesse entrar nos EUA.

A prisão do faz-tudo criou novos riscos para o bolsonarismo. Curiosamente, o advogado escalado para defendê-lo se mostrou mais preocupado em defender o ex-presidente. A julgar por suas entrevistas, Cid seria o primeiro ajudante de ordens que, em vez de cumprir ordens, agia à revelia do chefe.

O cenário está armado para que o tenente-coronel pague a conta em nome do capitão. Cid é um arquivo vivo. Viu tudo, ouviu tudo e sempre esteve na cena do crime. A ver se aceitará o papel de bode expiatório.

Diário de um detento

A defesa de Anderson Torres diz que o ex-ministro chora todos os dias e precisa sair da cadeia. Mas não quer que ele seja transferido para um hospital penitenciário, como facultou o ministro Alexandre de Moraes.

Então ficamos combinados assim: Torres está doente demais para ficar preso e doente de menos para ser internado.

Nenhum comentário: