sexta-feira, 12 de maio de 2023

Com Torres solto, agora é Cid quem sinaliza que lealdade ao mito tem limite


Anderson Torres e Mauro Cid Imagem: Marcos Corrêa/PR; Alan Santos/PR

A tranquilidade tornou-se um sentimento volúvel na rotina de Bolsonaro. O capitão confia plenamente no amanhã, a não ser que uma surpresa lhe caia sobre a cabeça durante a noite. Num instante em que o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes coloca Anderson Torres em liberdade, o coronel Mauro Cid, ainda preso, se move como se flertasse com a delação.

Logo que foi recolhido à cana especial, Cid mandou dizer a Bolsonaro que não cogitava encrencá-lo em seus futuros depoimentos à Polícia Federal. Agora, a apenas seis dias do interrogatório do próprio Bolsonaro no caso da falsificação dos cartões de vacina, marcado para a próxima terça-feira, o coronel sinaliza ao capitão que não convém abusar de sua lealdade.

A saída do advogado Rodrigo Roca da defesa de Mauro Cid pode significar muita coisa ou coisa nenhuma. Roca é avesso a delatores. Declara abertamente que não defende réus que optam por firmar acordos de delação premiada. O novo defensor do ex-faz-tudo de Bolsonaro é o criminalista Bernardo Fenelon, um especialista em delações.

Nesse contexto, a novidade será bombástica se o desembarque de Roca for seguido do anúncio de que Cid decidiu confiar sua defesa ao doutor Fenelon porque se equipa para contar à polícia os podres de Bolsonaro. Do contrário, a troca de defensores será, aos olhos da plateia, uma irrelevância processual.

O comportamento de Bolsonaro em cima do patíbulo parece crucial na definição dos próximos movimentos do militar cuja atribuição estava resumida no nome do cargo. Cabia a Cid providenciar para que as ordens do presidente fossem cumpridas —as legais e, sabe-se agora, também as ilegais.

Rodrigo Roca já participou da defesa do primogênito Flávio Bolsonaro no caso da rachadinha. Ele havia abandonado também a defesa de Anderson Torres. Imaginou-se que o ex-ministro da Justiça viraria delator. Por ora, nada. Para sossego de Bolsonaro, o xerife Xandão, como se refere ao seu algoz supremo, mandou soltar Torres numa fase em que a língua dele continua presa.

Agora, pressionado por familiares, é Mauro Cid quem se pergunta diante do espelho de sua cela especial: Qual é o limite da lealdade? À medida que o tempo passa e as investigações da PF avançam, os encrencados do bolsonarismo vão percebendo que é sempre melhor se arrepender do que experimentou do que não experimentar. Exceto, naturalmente, luta de boxe, queda de avião e a subordinação irrefletida a Bolsonaro.

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