domingo, 14 de maio de 2023

Senha do celular de Cid virou abracadabra para a caverna do casal Bolsonaro


O então presidente, Jair Bolsonaro, e primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em evento no Palácio do Planalto Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A senha que conduziu a Polícia Federal às nuvens conectadas ao celular do coronel Mauro Cid revelou-se uma espécie de abracadabra para a caverna do casal Bolsonaro. Em meio a cartões de vacina falsificados e diálogos golpistas, os investigadores esbarraram na caixa registradora de Michelle Bolsonaro. Aos pouquinhos, vai sendo exposto o lado Ali Babá dos ex-inquilinos do Alvorada.

Revelados pelo repórter Aguirre Talento em notícia do UOL, os novos áudios contêm uma troca de inquietações entre Cid e duas assessoras de Michelle: Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva. Os três exalavam preocupação com a hipótese de o Ministério Público e a imprensa descobrirem as arcas de Michelle.

Numa das mensagens, Cid compara as transações à rachadinha do primogênito Flávio Bolsonaro. "É a mesma coisa do Flávio", declarou o ex-ajudante de ordens e faz-tudo de Bolsonaro à assessora Giselle. Michelle fazia compras com um cartão de crédito da amiga Rosimary Cardoso Cordeiro, uma assessora parlamentar do Senado.

Há mais: Cid pagava as faturas do cartão em dinheiro vivo, sacado em uma agência do Banco do Brasil dentro do Planalto. Há pior: uma empresa com contratos firmados com a estatal Codevasf, Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção, fez pelo menos 12 depósitos na conta de um subordinado de Cid, o sargento Luis Marcos dos Reis. Coisa de R$ 25.360. Há pior: Segundo a PF, o sargento realizou pagamentos de despesas atribuídas a Michelle.

Tornou-se difícil ouvir falar em Deus, pátria e família sem reprimir um sorriso interior. Doravante, sempre que o ex-primeiro casal escorar suas atitudes na tríade predileta do fascismo, uma voz no fundo da consciência dos brasileiros avisará: "Farsantes!" Pintou um clima entre o bolsonarismo e a picaretagem financeira. As investigações da Polícia Federal evocam o célebre epíteto do Evangelho: "Raça de víboras."

Mal comparando, o convívio com Bolsonaro é mais ou menos como o sarampo. A falta de cuidado deixa marcas indeléveis. Michelle já convivia com as erupções dos R$ 89 mil que o operador de rachadinhas Fabrício Queiroz borrifara em sua conta bancária. Surgem agora na biografia imaculada de madame infecções que potencializam o caráter criminal da moléstia.

São sete os pecados capitais: soberba, avareza, luxúria, inveja, gula, ira e preguiça. Michelle enroscou-se no oitavo, ainda não catalogado: o pecado do capital propriamente dito.

No despacho em que autorizou a extensão das quebras de sigilos de Mauro Cid a funcionários da Presidência e pessoas ligadas a Michelle, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes anotou que os dados colecionados pela PF revelaram "fortes indícios de desvio de dinheiro público, por meio da Ajudância de Ordens da Presidência da República" para pessoas indicadas pelas duas assessoras da ex-primeira-dama.

Aos pouquinhos, os indícios vão se convertendo em provas duras de roer. Vêm à luz coisas que deixariam Ali Babá ruborizado.

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