terça-feira, 16 de maio de 2023

Após 'explicações', Cid fica com cara de Queiroz



Se as explicações da defesa de Bolsonaro serviram para alguma coisa foi para comprovar que já não há no porão doméstico-financeiro do capitão nenhum pecado original. Bolsonaro e sua mulher Michelle continuam rodeados de operações que têm a aparência das malfeitorias miúdas. A diferença é que a promiscuidade mudou de patamar. Subiu do baixo clero da Câmara e do submundo político do Rio de Janeiro para os palácios do Planalto e do Alvorada.

Alega-se que foi por "segurança" que Bolsonaro teria optado pelo uso de dinheiro vivo no pagamento de despesas de Michelle pelo ajudante de ordens Mauro Cid. Nessa versão, Bolsonaro receava que a exposição dos dados bancários inspirasse algum inimigo a fazer "depósitos escusos" na sua conta. Explicou-se que Michelle pendurava suas compras no cartão de crédito de uma amiga porque Bolsonaro é "pão duro" e não quis dar um cartão adicional para sua própria mulher.

Em 2018, Bolsonaro era presidente eleito quando precisou explicar um depósito de R$ 24 mil feito pelo faz-tudo da época, o ex-PM Fabrício Queiroz, na conta de Michelle. Disse na época que o dinheiro estava relacionado com uma dívida de R$ 40 mil que Queiroz tinha com ele. Passaram-se cinco anos e a coisa só piorou. O dinheiro repassado pelo casal Queiroz para Michelle subiu para R$ 89 mil, mais do que o alegado empréstimo. Indagado, Bolsonaro ora desconversava, ora ameaçava "meter a porrada" no repórter.

As alegações da defesa e os áudios colecionados pela Polícia Federal deram a Mauro Cid uma aparência de Fabrício Queiroz. Por mal dos pecados, o próprio Cid declarou a uma assessora de Michelle que, se fossem descobertos, os gastos de madame em dinheiro vivo seriam vistos como uma rachadinha. "É a mesma coisa do Flávio", disse o novo faz tudo, numa alusão ao primogênito.

Onze servidores plantados nas folhas de gabinetes dos Bolsonaro faziam depósitos nas contas de Queiroz. Entre eles estavam a ex-mulher e a mãe do ex-PM Adriano da Nóbrega, miliciano morto numa operação policial na Bahia. Esse escândalo foi enterrado vivo pelos tribunais superiores de Brasília. A Polícia Federal suspeita que o dinheiro manuseado por Mauro Cid também tem origem em arcas públicas, só que federais. As explicações da defesa de Bolsonaro, escoradas numa planilha de produção caseira, podem servir para animar bolsonaristas nas redes sociais. Mas não vão silenciar as perguntas da Polícia Federal.

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