O Estado brasileiro comprova cotidianamente que o inferno existe. Mas não funciona. Quando uma empresa encrencada com o garimpo ilegal na reserva yanomami é contratada pelo Exército e pelo Ministério da Saúde, sob Lula, para furar poços artesianos no território indígena que ajudou a violar, o país está diante de duas possibilidades, ambas deletérias.
Uma das alternativas é que o Exército e a Saúde, embora presentes na região, não soubessem da suspeição que marca a empresa contratada, a Cataratas Poços Artesianos. Outra possibilidade é que os contratantes, embora soubessem que a Polícia Federal e o Ibama apontaram a sede da firma como base para o garimpo ilegal na terra yanomami, deram de ombros para a informação.
Diante de hipóteses tão desqualificadoras, qualquer justificativa para contratar a empresa suspeita —sem licitação— apenas reforça a sensação de que o interesse público é um valor indefeso na administração pública. Acionada pelo Ministério Público, a Justiça optou pelo mal menor —diante do fato consumado, ordenou a conclusão, não a interrupção do serviço.
Ironicamente, o dono da Cataratas, Rodrigo Martins de Mello, é um bolsonarista de vitrine. Comanda uma ONG pró-garimpo. Filiou-se ao PL de Valdemar Costa Neto. Em 2022, enganchado em Bolsonaro, gastou R$ 500 mil de sua fortuna declarada de R$ 33,5 milhões numa malograda campanha a deputado federal.
Um estagiário perscrutaria o prontuário do empresário antes de fazer negócios com ele. Mas o Exército e a pasta da Saúde não tiveram o discernimento de consultar a PF e o Ibama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário