sexta-feira, 26 de maio de 2023

Lula leva surra do Congresso e não dá um pio



Há tempos que o governo não tomava uma surra igual no Congresso. Num único dia, os parlamentares devastaram a pasta do Meio Ambiente, aniquilaram o Ministério dos Povos Indígenas, cercaram a política de demarcação de terras indígenas e afrouxaram o Código Florestal, criando regras que facilitam o desmatamento de áreas protegidas da Mata Atlântica. Tudo isso sem que Lula desse um pio. Para entender o que se passa é preciso atrasar um pouco o relógio.

Na sucessão de 2022, Lula obteve uma vitória por pequena margem. Aos seus seguidores juntaram-se eleitores que votaram na defesa da democracia. Vitorioso, o PT decidiu ficar parecido com o seu oposto ao apoiar incondicionalmente a reeleição de Arthur Lira na Câmara. Agora, a maioria do Congresso vota no oposto. Articulada por Lira, a banda troglodita do Legislativo passou a boiada ambiental de Bolsonaro pela cerca da gestão Lula.

A surra veio nas pegadas de um triunfo. Foi como se Lira desejasse esclarecer que a aprovação na Câmara da proposta sobre a nova regra fiscal foi articulada por ele, não pelo Planalto. Dizer que Marina Silva e Sonia Guajajara foram derrotadas é pouco para traduzir a pancadaria. Marina perdeu o controle sobre o Cadastro Ambiental Rural e a Agência Nacional de Águas. Guajajara perdeu a Funai e a prerrogativa de demarcar terras indígenas. Mas foi Lula quem perdeu o rumo na única área em que pode reivindicar um protagonismo planetário: o setor ambiental.

A ideia de que Lula é apoiado por uma frente ampla é linda para embalar teses acadêmicas. Mas é falsa. Por falta de alternativa, a tal frente formou-se apenas para elegê-lo. Pode se manter unida se o eleito a cortejasse. Mas Lula tinha outas prioridades. Na área externa, a guerra na Ucrânia. No front interno, a reestatização da Eletrobras. Cavalgando uma oposição 100% feita de ressentidos, Lira compõe a frente ampla do atraso. Lula ainda vai ter saudades de um tempo que não viveu. Uma época em que a oposição a Getúlio Vargas e João Goulart era chamada de Banda de Música. Hoje, dá as cartas no Congresso a banda do atraso.

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