sábado, 20 de maio de 2023

Mulher de Mauro Cid expõe glúteos do marido



Ao extrair os segredos de Mauro Cid do seu celular, a Polícia Federal deixou-o nu. Mas o coronel escondia sua nudez atrás do silêncio, um manto diáfano oferecido pela Constituição aos suspeitos que fogem da autoincriminação. Nesta sexta-feira, depôs à PF Gabriela Cid, a mulher do coronel. Ao declarar aos investigadores que era o marido quem cuidava dos cartões de vacina da família, todos eles adulterados, a depoente complicou a situação do cônjuge. Agora, os glúteos do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro estão expostos na janela da cela especial em que se encontra trancafiado desde o dia 3 de maio.

Mauro Cid estava com o uniforme em desalinho desde o instante em que confundiu as atribuições de ajudante de ordens com as de faz-tudo de Bolsonaro. Provedor de matéria-prima usada pelo ex-chefe para difundir notícias falsas em suas lives, o coronel tornou-se coadjuvante no inquérito sobre as milícias digitais, que corre no Supremo. Perdeu a parte de cima da farda ao se meter no esforço infrutífero para reaver as joias sauditas apreendidas na alfândega de Guarulhos. Ficou sem camiseta, com com o torso à mostra, quando a PF descobriu que capitaneou o esquema da fraude dos cartões de vacina.

O coronel perdeu as calças quando vieram à luz o teor dos áudios de suas conversas vadias com outros militares sobre golpe e os diálogos com assessoras de Michelle Bolsonaro sobre o pagamento em dinheiro vivo do cartão de crédito clandestino de uma ex-primeira dama com a imagem já bem rachadinha. "É a mesma coisa do Flávio", disse Cid num dos áudios tóxicos, em alusão ao primogênito do capitão.

Com uma incômoda aparência de neo-Fabrício Queiroz, Mauro Cid ficou sem as roupas íntimas no instante em que Bolsonaro, interrogado pela PF, disse que as doses falsas de Pfizer atribuídas a ele e à filha Laura foram injetadas no sistema eletrônico do Ministério da Saúde à sua revelia.

A exemplo do marido, Gabriela Cid foi alvo de busca e apreensão determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Ela frequenta o polo passivo do inquérito sobre as vacinas falsas. Como a família Cid também obteve cartões mutretados de imunização contra a covid, pairam sobre ela, segundo a PF, as suspeitas de infração a medida sanitária preventiva, associação criminosa e corrupção de menores. No seu depoimento, combinado com o marido e com os advogados, a senhora Cid adotou uma estratégia de redução de danos.

Gabriela declarou que o marido "tomava a frente da dinâmica familiar". Disse "ter certeza" de que Cid não lhe contaria como obteve os cartões fraudados. De acordo com o documento que registra seu depoimento, ela alegou que não sabe se o marido "arquitetou e capitaneou toda a ação criminosa relativa às inserções de dados nos sistemas" do Ministério da Saúde em benefício de Bolsonaro e da filha dele, Laura. Na prática, Gabriela transferiu para Cid a responsabilidade de fornecer as respostas para as interrogações da Polícia Federal.

O estrago está feito. Mauro Cid precisa decidir agora se é mais fiel a Bolsonaro ou à sua companheira. Admitindo que cumpria ordens do ex-chefe ao baixar do aplicativo ConectSus os cartões de vacina de Bolsonaro e de Laurinha, Cid recupera a camiseta. Reconhecendo que o capitão tentou incorporar ao seu patrimônio pessoal as joias sauditas, talvez obtenha de volta a jaqueta. Se esclarecer a origem do dinheiro vivo que pagava as despesas de Michelle, Cid pode reaver a roupa de baixo.

Quanto às calças da farda, a recuperação será mais difícil. A carreira militar do coronel que sonhava com o generalato foi para as cucuias. Por enquanto, Cid continua recebendo o soldo. Coisa de R$ 26,2 mil por mês. Entretanto, o Exército terá dificuldades para justificar a manutenção da remuneração depois que for proferida uma sentença que, a essa altura, tornou-se incontornável. Condenado, Cid talvez tenha que vestir roupas de paisano. O traje será menos amarfanhado se o quase ex-coronel se convencer de que precisa compartilhar suas culpas com Bolsonaro.

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