quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Zé Trovão promove aliança improvável de Bolsonaro com Alexandre de Moraes



Subproduto das manifestações promovidas por Bolsonaro no Dia da Independência, o bloqueio de rodovias por caminhoneiros em diversos estados produziu uma inusitada aliança. Um áudio de Bolsonaro pedindo a desobstrução das estradas encostou a posição do presidente numa ordem de prisão expedida pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes contra o caminhoneiro —ou pseudo-caminhoneiro— Marcos Antonio Pereira Gomes, o Zé Trovão, um dos organizadores das barricadas rodoviárias.

No dia 7 de Setembro, horas depois de Bolsonaro ter xingado Moraes de "canalha" em discurso na Avenida Paulista, o bolsonarista Zé Trovão, foragido da Justiça, desafiou o ministro nas redes sociais. Enrolado numa bandeira do Brasil, o fugitivo trovejou num vídeo: "Alexandre de Moraes, você pode até tentar me buscar, meu irmão, não adianta você me prender não, porque o Brasil ganhou, Alexandre de Moraes! Você perdeu, Alexandre de Moraes! Você não é mais nada!"



No dia 8 de setembro, Bolsonaro recolheu-se em seus palácios e os caminhoneiros bolsonaristas continuaram nas ruas à procura de encrenca. Num movimento político em que se misturam a defesa do voto impresso e a derrubada de ministros do Supremo, caminhoneiros usam a falta de nexo como pretexto para trancar rodovias. E Bolsonaro, de repente, lembrou que tem um país para presidir. Pediu o desbloqueio para não prejudicar a economia.

Ao ouvir o pedido, Zé Trovão e sua turma perderam o chão. Na madrugada desta quinta-feira (9), duvidando da autenticidade do áudio atribuído ao presidente, o aliado disse a Bolsonaro que destruiu sua vida pelas causas bolsonaristas. E rogou ao presidente que leve a cara às redes sociais, esclarecendo se quer mesmo abrir as estradas. Mais um pouco e Zé Trovão vai chamar o "mito" de "canalha."

Zé trovão foi enviado à alça de mira de Alexandre de Moraes pela Procuradoria-Geral da República junto com outras sete pessoas. Entre elas Sérgio Reis. Alvejado por uma batida de busca e apreensão dos rapazes da Polícia Federal, o cantor sertanejo percebeu que entrara numa fria. Sem receber uma mísera mensagem de solidariedade do presidente, enfiou a viola no saco, como se diz, e saiu de fininho.



Com tantos erros novos à disposição, Bolsonaro insiste em cometer velhos equívocos. Na campanha eleitoral de 2018, o governo de Michel Temer foi posto de joelhos por uma paralisação nacional de caminhoneiros que levou o Brasil à beira do colapso, interrompendo o suprimento de combustíveis, alimentos e até insumos médicos. Daí o medo dos brasileiros de que se repita agora algo parecido.

Sob Temer, o candidato Bolsonaro insuflou os caminhoneiros, apoiando a paralisação nas redes sociais. A economia brasileira sofreu um grande baque. Agora, Bolsonaro revela-se um gestor autossuficiente em crises. Ele mesmo mobiliza os caminhoneiros, ele mesmo explora a mobilização politicamente, ele mesmo fareja os danos econômicos, ele mesmo abandona os caminhoneiros depois de perceber que bloqueio de estrada no governo dos outros é refresco.

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