sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Bolsonaro, o extermínio de doentes e a Internacional da extrema direita


Bolsonaro durante, digamos, "entrevista" a Markus Haintz, um pé-rapado da extrema direita alemã. Disse coisas muito graves Imagem: Reprodução/Youtube

No dia 8 de setembro, Jair Bolsonaro já sabia que o seu levante golpista tinha sido um fiasco. Naquela quarta-feira, Luiz Fux, presidente do Supremo, fez um discurso muito firme. Ninguém iria fechar o tribunal, e seus ministros não se curvariam a pressões. Abúlico, deprimido — os tiranetes têm seus momentos melancólicos —, o "Mito" telefonou a Michel Temer, e a rendição foi assinada no dia seguinte.

Mas o pateta truculento fez mais do que ligar para o ex-presidente e assinar a cartinha entre os dias 8 e 10. Recebeu militantes da extrema direita alemã no Palácio do Planalto e deixou claro qual era o seu plano para os pacientes de Covid-19. Tal plano não foi levado a termo — não ao menos como ele pretendia — porque a Justiça e a vigilância da imprensa não deixaram.

Bolsonaro conversou com Markus Haintz e a Vicky Richter. Os dois são fundadores, na Alemanha, do partido antivacina "Die Basis" (A Base). A dupla integra ainda uma espécie de coletivo de movimentos de extrema direita chamado "Querdenken" (Pensamento Lateral), que liderou protestos na Alemanha contra as medidas de restrição de circulação, as vacinas, o uso obrigatório de máscaras... Contra, enfim, a civilização. Bem, vocês conhecem esse roteiro. E ainda voltarei ao ponto. Fixemo-nos no conteúdo do bate-papo.

Segundo o presidente, os hospitais falsificaram diagnósticos de Covid para ganhar mais dinheiro:
"Uma pessoa com Covid na UTI de um hospital público, ela custa em média R$ 2 mil por dia. Para outras doenças, o custo é de R$ 1 mil. Então, muita gente humilde, quando ia para o hospital e precisava ser internada, ia por meio de UTI porque o hospital pegava mais dinheiro do que sem ser de Covid."

Esse suposto procedimento, uma mentira escandalosa, teria levado à supernotificação:
"Então houve uma supernotificação. Mas as supernotificações vai (sic) se ver dois ou três anos depois. Isso aconteceu, e o número de mortos foi superdimensionado no Brasil. Muito frequentemente, para liberar o corpo mais rapidamente, colocavam Covid. Não havia autopsia. Era mais barato para o hospital não fazer autopsia. Então muita coisa aconteceu para potencializar o número de óbitos."

Atenção para este trecho. Ele é importante porque percebemos o que Bolsonaro tinha em mente:
"Muita gente já tinha alguma comorbidade. Então a Covid abreviou a vida delas em alguns dias ou algumas semanas."

Não ficou apenas nas sandices conspiratórias. Ou não seria ele. Mentiu sobre a Coronavac:
"Eu não vou obrigar ninguém a se vacinar. Como posso mandar as pessoas tomarem a Coronavac se não há evidência científica de sua eficácia? É experimental."

E, aqui, mais um trecho de seu plano frustrado:
"Estudos confiáveis indicam que os contaminados pelo vírus têm mais anticorpos do que quem tomou a vacina. Seis vezes mais. Eu sempre disse que temos de encarar o vírus, não se esconder embaixo da cama".

O QUE ELE REALMENTE QUERIA
Pronto! Podemos juntar os pedaços e concluir qual era o plano de Bolsonaro:
1: em vez de vacinas, a tal imunização de rebanho. O flagelo das novas cepas evidencia a estupidez da afirmação;
2: por que mandar para a UTI, um serviço dispendioso, quem, segundo seu raciocínio ao menos, vai mesmo morrer?;
3: é evidente que Bolsonaro não dispõe de um só dado técnico que endosse as suas fantasias. Mas tem uma disposição infinita para a mentira. Quem quiser disputar com ele o eleitorado de extrema direta terá de, no mínimo, mentir na mesma proporção.

Fica a cada dia mais claro o caráter criminoso desse governo e daquele que o lidera. O atraso na compra das vacinas não se deu por atrapalhação, mas por método. Atendia à vontade do chefe. Ele queria vida normal, sem máscara, com as pessoas encarando o vírus de frente. Não por acaso, estimulou a invasão de hospitais para verificar se havia mesmo colapso nos serviços de UTI. Este é o país em que pessoas morreram sufocadas por falta de oxigênio.

Bolsonaro não conseguiu implementar seu plano de extermínio de doentes. E, mesmo assim, estamos com quase 600 mil mortos.

LIVE DESTA QUINTA
Já volto aos alemães de extrema direita. Antes, uma nota breve sobre a live desta quinta. O presidente voltou a criticar a imunização de adolescentes e a fazer discurso terrorista contra as vacinas. E deu a entender que vai pressionar o ministro da Saúde a voltar atrás:
"Quero conversar com o Queiroga. Não vou perturbá-lo agora. Se ele tiver bom amanhã, vou conversar com ele".

Mais um pouco:
"Eu tenho conversado com o Queiroga. 'Queiroga, para liberar, tem que ter um estudo comprovado nesse sentido'. Porque, se começa a morrer a garotada, tem um problema qualquer, vai estourar no teu colo. E, na última análise, vai estourar no meu colo."

E metaforizou, tentando dizer sabe-se lá o quê:
"O que tem que se pesar? É o custo-benefício. Vai jogar R$ 10 para ganhar R$ 5? Assim, não compensa, tem que jogar R$ 5 para ganhar R$ 10. Eu continuo defendendo a liberdade. Você quer se vacinar, se vacina. Não quer, não se vacina".

Encontrou tempo para criticar a Anvisa pela imposição da quarentena e repetiu outra estupidez sobre imunização e contaminação:
"Infelizmente, a Anvisa recomendou que eu ficasse de quarentena. Eu até questionei o pessoal da Anvisa, da Saúde também: 'Até quem está vacinado tem que ficar de quarenta? Ué, vocês não acreditam na ciência, não acreditam na vacina?'"

DE VOLTA AOS ALEMÃES
O "Querdenken" começou com uma reunião de militantes contra a vacina e logo virou chamariz de toda espécie de extremista de direita, de modo que alguns de seus líderes passaram a ser monitorados pela polícia -- sim, os neonazistas, como de hábito, aproveitaram para sair do esgoto.

Vamos ver se vocês identificam o discurso. Quando atacam as medidas restritivas e as vacinas, os valentes o fazem em nome da "liberdade" e dos direitos individuais. Com o tempo, a pauta começou a se tornar mais extensa:
- negação virulenta das evidências de mudança climática;
- acusação de fraude nas eleições federais;
- pedido de renúncia coletiva do governo. Seus congêneres no Brasil querem derrubar o STF.

A Alemanha vai às urnas depois de amanhã. O "Querdenken" faz campanha para o Alternativa para a Alemanha, a legenda de extrema direita coalhada de neonazistas, que tem como um de seus expoentes a deputada Beatrix Von Storch, que se encontrou com Bolsonaro em Brasília.

Ela é neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Hitler.

Que fique claro: tenta-se criar hoje uma espécie de Internacional da extrema direita no mundo. E Bolsonaro é parte dessa equação.

Seu plano para os pacientes de Covid lembra o destino que os nazistas reservavam àqueles que o regime considerava incapazes.

Nem morte nem vitória para Bolsonaro.

Cadeia!

Por Reinaldo Azevedo

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