Em três dias, Jair Bolsonaro admitiu duas vezes que está com medo da cadeia. No sábado, ele disse ver três alternativas para o próprio futuro: “estar preso, ser morto ou a vitória”. Acrescentou que “a primeira alternativa, preso, não existe”. Faltou explicar o motivo: ausência de crime ou de espaço no xadrez?
Na segunda-feira, o capitão voltou ao tema. Garantiu que o Supremo Tribunal Federal estaria decidido a mandá-lo para a tranca. “O que eles querem? Aguardar o momento para me aplicar uma sanção restritiva, quem sabe quando eu deixar o governo lá na frente”, afirmou. Pelo que indicam as pesquisas, o “lá na frente” deve chegar mais cedo do que ele gostaria.
Bolsonaro tem razões para perder o sono. Até aqui, ele é alvo de quatro investigações simultâneas no Supremo. Os inquéritos apuram a eventual prática de crimes no exercício do mandato, da interferência indevida na Polícia Federal à prevaricação no escândalo da Covaxin. A conta não inclui outros delitos ligados à gestão da pandemia, que serão listados no relatório final da CPI da Covid.
Quando descer a rampa, o capitão também terá que enfrentar esqueletos do passado. Os rolos começam na contratação de assessores-fantasmas e podem chegar às relações suspeitas com milicianos. Ele ainda responde a duas ações penais por injúria e incitação ao estupro. Os processos estão congelados e voltarão a correr assim que o réu pisar fora do palácio.
Assombrado pela visão da cadeia, Bolsonaro age como fera acuada. Mostra as garras e range os dentes para quem pode capturá-lo. O objetivo desse jogo é forçar uma inversão de papéis. O presidente está com medo, mas quer transformar o resto do país em refém de suas ameaças.
O impasse que antecede o Sete de Setembro indica que a armadilha está dando certo. Bolsonaro conseguiu difundir a ideia de que está prestes a dar um golpe. As instituições se assustaram e entraram em estado de paralisia. A CPI suspendeu depoimentos, a oposição desmarcou protestos e o Supremo decretou ponto facultativo. Se o truque continuar funcionando, vamos assim até janeiro de 2023.
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