quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Com medo da cadeia, Bolsonaro tenta transformar país em refém



Em três dias, Jair Bolsonaro admitiu duas vezes que está com medo da cadeia. No sábado, ele disse ver três alternativas para o próprio futuro: “estar preso, ser morto ou a vitória”. Acrescentou que “a primeira alternativa, preso, não existe”. Faltou explicar o motivo: ausência de crime ou de espaço no xadrez?

Na segunda-feira, o capitão voltou ao tema. Garantiu que o Supremo Tribunal Federal estaria decidido a mandá-lo para a tranca. “O que eles querem? Aguardar o momento para me aplicar uma sanção restritiva, quem sabe quando eu deixar o governo lá na frente”, afirmou. Pelo que indicam as pesquisas, o “lá na frente” deve chegar mais cedo do que ele gostaria.

Bolsonaro tem razões para perder o sono. Até aqui, ele é alvo de quatro investigações simultâneas no Supremo. Os inquéritos apuram a eventual prática de crimes no exercício do mandato, da interferência indevida na Polícia Federal à prevaricação no escândalo da Covaxin. A conta não inclui outros delitos ligados à gestão da pandemia, que serão listados no relatório final da CPI da Covid.

Quando descer a rampa, o capitão também terá que enfrentar esqueletos do passado. Os rolos começam na contratação de assessores-fantasmas e podem chegar às relações suspeitas com milicianos. Ele ainda responde a duas ações penais por injúria e incitação ao estupro. Os processos estão congelados e voltarão a correr assim que o réu pisar fora do palácio.

Assombrado pela visão da cadeia, Bolsonaro age como fera acuada. Mostra as garras e range os dentes para quem pode capturá-lo. O objetivo desse jogo é forçar uma inversão de papéis. O presidente está com medo, mas quer transformar o resto do país em refém de suas ameaças.

O impasse que antecede o Sete de Setembro indica que a armadilha está dando certo. Bolsonaro conseguiu difundir a ideia de que está prestes a dar um golpe. As instituições se assustaram e entraram em estado de paralisia. A CPI suspendeu depoimentos, a oposição desmarcou protestos e o Supremo decretou ponto facultativo. Se o truque continuar funcionando, vamos assim até janeiro de 2023.

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